domingo, 5 de setembro de 2010


Crítica.

The National - Boxer.


por Marlon Marques.

















Ando muito desanimado com o rock ultimamente. Não veja nada que me anime, nada que me surpreenda, que me faça novamente acreditar em dias melhores. Já estou inclusive cansado de repetir as mesmas coisas, que o rock hoje vive de copiar, de reviver outras épocas e ninguém cria nada de qualidade. Tanto é verdade, que um dos últimos grandes discos que eu ouvi é de 2007, trata-se do ótimo “Boxer” da banda The National. Um disco bastante coeso – é claro que coesão já virou um clichê na crítica, mas nesse caso realmente encaixa-se perfeitamente. É tudo na medida certa, harmoniosamente as batidas se alinham com os acordes, com os efeitos, e todo o resto. Já disse em outros artigos, que um dos elementos que fazem um bom disco é sua capacidade de não ser chato. E inclusive vi uma opinião parecida recentemente. Uma pessoa ao comentar um artigo do Andreas Kisser no Yahoo sobre o que é boa música, disse que entre outras coisas, a boa música é aquela que você repete e ouve de novo. Sem se aprofundar nisso eu concordo em partes, e esse disco do The National dá essa vontade de ouvir de novo. Musicalmente chamam a banda de “indie rock” – mas como todo mundo usa o rótulo e ninguém sabe ao certo explicar o que é, eu prefiro não tentar classificá-los. O que posso dizer a esse respeito é que, imageticamente, o The National é um cruzamento entre os ares retrô de Franz Ferdinand e The Coral – ares retrô inclusive corroborados pela bela capa do disco, onde se vê um baile antigo, com banda e crooner, registrado numa emblemática foto preto e branco – com cores de um Belle & Sebastian dos primeiros discos e uma aura um tanto soturna que lembra Nick Cave e Tindersticks – isso sem contar uma das influências confessas da banda – Joy Division. Inclusive o timbre de voz de Matt Berninger lembra muito o de Ian Curtis em certos momentos, assim como o de Cave em outros. Musicalmente o The National é muito requintado – com tons baixos (e sem muralhas de barulho), é possível ouvir toda riqueza melódica da banda – ouça isso perfeitamente em “Green Gloves”. Às vezes a banda soa um tanto urgente, mas uma urgência contida, assim como no Joy Division – caso das faixas “Fake Empire” e “Mistaken For Strain”. Aparentemente pode até nem parecer muito com Franz Ferdinand, mas quando eu digo isso, é no sentido de passarem ao ouvinte uma ideia de modernidade com contornos de passado. “Apartment Story” me dá essa impressão, lembra aquelas histórias do Sonic Youth, de plugar os instrumentos em amplificadores velhos e tocar na área de serviço – tudo isso para conseguir efeitos empoeirados que não se conseguiria de outra forma. O que mais me chamou atenção nesse disco, foi à forma como ele é conduzido. Não há nas entrelinhas a soberba que eu vejo no Oasis, no Foo Fighters (apesar de serem grandes bandas), no The Killers e no Fall Out Boy. O The National é uma banda sóbria, daí a coesão que falei no início. É claro que há um forte diálogo com essa nova tradição dos anos 2000, mas de uma forma menos altiva. Além do que esse é o disco que mais traz inovações nos últimos 5 anos. A seqüência – “Start A War”, “Guest Room”, “Racing Like A Pro” e “Ada” – apontam ao meu ver se não para o futuro, pelo menos para um início de renovação, de tirar o rock da mesmice em que se encontra. E outro ponto polêmico ao meu ver também diz respeito ao formato. Essa volta de baixo, bateria e guitarra no meu entendimento não é benéfica no dias de hoje. Pois só mesmo o The Jam (veja o disco All Mod Cons), conseguia fazer harmonias novas e incríveis só com esses instrumentos, então se não dá para ser assim, melhor ousar um pouco, adicionando efeitos, pianos, teclados, sopros e tentando inovar. Mesmo que morra na praia, The National já fez muito com esse “Boxer” – um exemplo a ser seguido (ou não).




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The National - Boxer. (Beggars Banquet, 2007).

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