quarta-feira, 21 de abril de 2010


Artigo.

Arrependei-vos pois não há justiça.


por Marlon Marques.





















Danilo pode até não ser racista. Mas não há como negar o fato de que Danilo foi racista. Foi naquele momento, embora não o seja. Alguns comentaristas tentaram inocentar o zagueiro do Palmeiras de culpa, justificando que tal xingamento foi oriundo de sua raiva profunda após ter sua mãe ofendida. Disse um comentarista que ele não teve a intenção de ser racista, apenas disse qualquer coisa que lhe veio à cabeça. Então vejamos, se você se envolve em uma confusão, aí lhe vem à cabeça a palavra “estuprador”, ou “pedófilo” e aí você diz alegando que foi a primeira coisa que lhe veio à mente está tudo certo? Isso não se justifica. Se você usar simplificadamente Freud e Skinner, poderemos ver essa questão de um outro ponto de vista. Freud definiu que as informações e as nossas experiências se alocam em nossa mente em três lugares – consciente, inconsciente e subconsciente. Tudo o que lembramos instantaneamente está localizado em nosso consciente segundo essa concepção freudiana. Skinner em seus estudos sobre o aprendizado, concluiu que o aprendizado se dá por repetição. Em seu famoso experimento da caixa do ratinho branco, Skinner percebeu que o rato associou que ao esbarrar no dispositivo o mesmo liberava água de que precisava. Ou seja, de tanto fazer isso, logo o rato aprendeu como obter água. O que quero dizer é que, para que algo esteja em nosso consciente, para sempre lembrarmos, é preciso repetição. Então, se Danilo se lembrou da palavra “macaco”, é porque estava em seu consciente, e para que estivesse lá, é porque foi repetida tantas vezes, que então se fixou. É como dizer a idade, ou o nome, o nome dos pais, ou o clube de que torce, essas informações usamos sempre. Agora pergunte a alguém qual é a capital do Azerbaijão, ou a data de nascimento de Maurício de Nassau, isso não usamos nunca ou quase nunca, portanto ninguém sabe isso assim de repente. Porque o Danilo não xingou Manoel de um palavrão qualquer, porque logo esse foi lembrado? Embora o Brasil seja um país miscigenado, o racismo no Brasil existe e de uma maneira muito evidente (embora digam velado). Racismo é crime, todos sabemos, mas não basta ser crime, precisa haver condenação. Se quem mata, rouba ou estupra não vai preso, há quem diga que é acusado de racismo ou injúria racial. O que eu acho é que Danilo não pode ser bode expiatório de um problema crônico em nossa sociedade, mas também não pode ser eximido de culpa. O que eu também ouvi é que o que disse Danilo é secundário e que isso não entra em campo, mas porque quando foi o argentino Desábato a imprensa todo foi contra. Qual a diferença entre um racista brasileiro e um racista argentino? O que fez Danilo extrapola a questão nacional (entre Brasil e Argentina), mas não extrapola o futebol, como tentou minimizar o meia Lincon do Palmeiras, dizendo que isso não entra em campo. O futebol é uma guerra simbólica como todos sabemos, porém há certas atitudes que inflamam mais esse espírito bélico do esporte. O ideal é que os atleticanos não entrem com esse espírito de revide contra o Palmeiras e contra o próprio Danilo. Porém se Manoel entrar não será nenhum surpresa, uma vez que foi a vitima em questão. Dentro dos ocorridos no campo de jogo não, tanto um (Danilo), quanto o outro (Manoel), não são inocentes, pois trocaram xingamentos e pontapés. Porém foi vitimado quanto à injúria racial. É inadmissível que isso aconteça, mas como cobrar do futebol uma racionalidade que não cobramos da sociedade. Não podemos apontar o jogador Danilo como racista uma vez que não sabemos com ele age em seu convívio social, se já se envolveu com outras polêmicas envolvendo questões raciais. Mas sua atitude foi racista, como frisei no início, e isso por si só já é o bastante para condená-lo. Seria injusta uma condenação via justiça comum, uma vez que ele não foi o primeiro e muito menos será o último a ofender um negro em campo ou fora dele. Como eu disse, Danilo não pode ser o bode expiatório de um problema maior, mas ele Danilo é parte desse processo social mais amplo, pois se apropriou do discurso social majoritário para evidenciar o que pensa talvez. Mas porque dentro de campo certas coisas se anulam? Ou todos concordam que os protestos contra ditadura empreendidos pela torcida Gaviões da Fiel nos anos 70 não tinham sentido só porque o meio foi o futebol? É claro que não. O palco do futebol é tanto plataforma política, quanto social e porque não racial. Negro no Brasil ascende social e economicamente através da música ou dos esportes. Todos rimos de piadas de negros, mas hoje em dia já se banalizou tanto que nem ligamos mais para o sentido final de depreciação. Danilo se arrependeu e seu perdão foi aceito porque vivemos em uma sociedade cristã. A pedra basilar do cristianismo é o perdão, o arrependimento e o perdão. Só para citar um exemplo, em Lucas 5:32 está escrito: “eu não vim chamar justos, mas pecadores, ao arrependimento”. O arrependimento conduz a salvação. Porém, a mim não basta somente o arrependimento e o perdão, deve haver punição. Voltando a usar Skinner, o ser humano aprende por repetição, comportamento condicionado. Portanto sou contra Danilo ser mártir de uma causa (já que ele não foi o primeiro a ser racista), mas poderia servir de exemplo de má conduta, poderia fazer um trabalho social, ter uma punição não criminal, mas pelo menos disciplinatória. Danilo foi perdoado e seu caso arquivado por nós, mas não podemos esquecer dos muitos atos racistas do cotidiano, e até cometidos por nós, e como vivemos num estado laico, que haja sempre a ética cristã para perdoar, mas que haja também uma justiça séria para punir, e só para usar como exemplo nomes de livros para ilustrar meu pensamento, eu estou mais para Crime e Castigo de Dostoievski, do que para A confissão e o perdão de Jean Delumeau.











































































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