quarta-feira, 25 de novembro de 2009


Artigo.

Irã – uma ponderação.


Marlon Marques*.














































Li muitos comentários a respeito da visita de Ahmadinejad ao Brasil. As visões são as mais dispares possíveis. Acho que supervalorizaram demais a figura do presidente do Irã – esquecendo-se que seu poder é bastante limitado. O Irã eu diria que é um país misto, bastante complexo politicamente. Pois ao mesmo tempo em que tem contornos de democracia (regime presidencialista, eleições diretas, etc. – embora seja mais amplo), o poder de fato é exercido pelo supremo imã, o aiatolá Ali Khamenei. Khamenei é o continuador da reforma trazida pela revolução islâmica de 1979. Segue os mesmos princípios de Khomeini. O irônico é que a revolução depôs uma ditadura e estalou outra, saindo a ditadura secular e entrando a ditadura religiosa. Nos países ocidentais o marco da separação entre igreja e estado se deu na revolução francesa. No ocidente acima de todos os cidadãos, inclusive dos que exercem o poder, está a constituição. No Irã é diferente. Existe uma constituição, mas essa é submetida as leis islâmicas, consideradas sagradas. E são elas que limitam a atuação de Ahmadinejad. É o mesmo lema da revolução francesa, “o rei está morto, viva o rei”. Não importa quem seja o presidente do Irã, sempre estará submetido ao imã supremo e ao islã. Então mais do que democracia, o Irã precisa de secularismo. Os xiitas já são radicais por natureza. Carregam consigo a herança do sangue do profeta Mohammad – o que significa (entre muitas outras coisas), uma proximidade maior com a tradição e com a ideia de que religião e política são contíguas. O pluralismo ocidental não combina com o purismo xiita, por conta disso é que a revolução se deu, iniciando o embate entre Estados Unidos e Irã, entre o islã e a modernidade ocidental – encarnada nos EUA. Há um ditado que diz que dois bicudos não se beijam. E é verdade. Enquanto houver radicais em todas as partes, o entendimento ficará cada vez mais distante. Veja o tabuleiro. Hamas (Palestina) X Benjamin Netanyahu (Israel). Bush (Estados Unidos) X Ahmadinejad (Irã). Com essas figuras e organizações a frente de tais conflitos, á sombra da solução é muito distante. E críticas á parte, os Estados Unidos elegendo Obama, parece ter largado na frente. No caso do Irã é necessário que caia o regime sagrado e se instale um regime totalmente secular [para dar um início]. Pois a sucessão do imã é dada por morte, assim como foi com o Khomeini, será com Khamenei, e outro igual – seguindo os mesmo princípios – ocupará o seu lugar. Quanto ao Ahmadinejad e seu estilo, me parece mais retórica [incluindo a questão do holocausto]. Ele é o Hugo Chávez do Oriente Médio (liderança que ascendeu após o ocaso de Khadaffi e a morte de Saddam), verborrágico (nem tanto), polêmico e intimidador. Há ele caiu bem o discurso anti-americano para trazer o Irã ao centro das atenções. É aquilo de atacando o outro você chama atenção para si. O que no fundo quer Ahmadinejad é liderar o Oriente Médio, elevando o Irã a potência local [e depois global] e pressionar o ocidente a respeitar o islã e a ceder em questões comerciais, econômicos e até sociais [incluindo direitos humanos]. A Coréia do Norte por exemplo cedeu após a tentação de benefícios econômicos. Com o Irã não é diferente. Quanto a questão nuclear, o grande problema é a finalidade a ser buscada pelo governo. Fins bélicos ou energéticos? De um lado se pensarmos na questão ambiental, ponto para o Irã em se preocupar em buscar alternativas ao petróleo e a sua dependência [não que pensem assim com essa consciência ecológica]. Porém no quesito bélico é diferente. Embora eu seja crítico da ideia de clube privado nuclear, ter mais um país no mundo com esse potencial é incoerente. No mundo ideal, as nações que tinham armas nucleares até a criação do tratado de não proliferação de armas nucleares (1968), deveriam destruí-las em prol de dar exemplo aos postulantes a potência nucleares. Como estamos no mundo real a coisa é bem diferente. Então face a realidade – alguns vão continuar com as armas – e um país a mais com a arma faz uma diferença enorme. Principalmente para a Índia. No islã há um princípio de cooperação e fraternidade muito grande – mesmo a despeito do conflito xiitas e sunitas. Então quando algum país não-muçulmano declara guerra [ou ataca] a um país muçulmano, a comunidade islâmica se mobiliza. A Índia que faz fronteira com o Paquistão (que faz fronteira com o Irã), fica num jogo de dois contra um. Imagine os três com armas nucleares (já que dois desses já possuem), o desequilíbrio, e o prejuízo para a Índia. Para o sistema internacional, um Irã nuclear é sinônimo de ameaça. Um Irã nuclear é o pior cenário possível para uma paz tão sonhada e distante no Oriente Médio. O Irã [com seu discurso e postura atual] daria guarida aos demais países da região a iniciarem seus programas nucleares, dando suporte técnico e logístico. Além do que com a via bélica aberta, o dilogo e os princípios do direito internacional seriam deixados de lado pela premissa primeira da força. Imagine uma democratização nuclear. Como seriam os conflitos nos Bálcãs com Croácia, Sérvia, Albânia, Kosovo, todos nucleares? Acredito que impedir que o Irã tenha a arma seja mais fácil do que destruir as já existentes. Então em nome da coerência o lobby contra o Irã nesse quesito é válido. Porém não podemos confundir isso com ser contra o desenvolvimento do país, uma vez que o Irã é uma nação soberana. São mundos diferentes, e enquanto continuarmos na visão “eles e nós” – nesse distanciamento a que se refere Carlo Ginzburg, o entendimento estará distante. É preciso chegar perto deles. Fazer como fez Obama, se dirigir a eles como quem se dirigindo a nós (ou a eles americanos). Não sei a eficácia disso, mas é uma tentativa. Só o fato de Ahmadinejad vir ao Brasil, dialogar com um país claramente aliado dos Estados Unidos, é um sinal de mudança. É um início de diálogo. E Barack Obama percebeu isso ao declarar que quer usar o Brasil (Lula) para se aproximar de Ahmadinejad. E verdade seja dita, o presidente Lula disse algo que resume muito dessa esperança, ou melhor, dará o rumo dessa esperança ao futuro da diplomacia. O presidente disse: “é preciso descobrir quem não quer a paz no Oriente Médio e colocar para escanteio”. Bush tinha certeza, o Irã é do mal (referindo-se ao tal eixo do mal). Obama tem dúvidas entre dialogar ou atacar o Irã. Porém cabe a Lula nos mostrar a verdade. Acredito que os caminhos sejam esses. Identificar quem quer o diálogo e chegar a paz. Depois disso traçar uma estratégia não de buscar a paz, mas de evitar a guerra. Concluo dizendo que enquanto o regime iraniano for religioso e ainda mais, xiita, não haverá boa vontade em resolver, por é mais do que um embate terreno, é um embate celestial.







































































*Marlon Marques é Historiador pela UNG, pós-graduado em Política e Relações Internacionais pela FESPSP, tendo participado do programa de pós-graduação em História Social na USP. Cursou Islamismo na Faculdade Unisantana.





















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Um comentário:

  1. A. Monçores2:31 AM

    "Tendo o ser obsevado e pensado, nasceu, a conciencia"

    Acredita-se que se foi assim que o homem, não o homem biblico, teve a sua capacidade de obeservar e ponderar sobre o mundo a seu redor.

    O ser humano, desde de eras primitivas, observa e pondera sobre este mundo.Tem desde então embates sobre o que deve ou não ser seu.
    As armas foram criadas como ferramentas de caça, de proteção e de ataque.

    O arco e flecha, a espada e a lança, já foram considerados as armas mais poderosas da face da Terra.

    Hoje as armas, são de proteção e ataque.
    Usa-se a desculpa de proteção para ataque, ou, de ataque para proteção.
    Mas proteger quem de quem, o que do que ?
    Atacar a quem pra que, ou porque ?
    Isso ou qualquer coisa que pessoas, que coexistam com nosco, so usam o argumeto de proximidade quando lhe é conveniente, para paz, para guerra ou para proveito proprio.
    O Irã, é um pais novo de povo antigo, de pensamentos antigos de atitudes antigas.
    Essa aproximação, com um pais igual ao Brasil se deve, não por causa de operario presidencial, ou porque este pais esta em boa observação internacional, mas sim, porque devemos ter algo a que muito se interessa a pessoas de pensamantos seculares.
    O que sera interessante a esses paises?

    Petroleo? Apesar do Brasil ser lider mundial em pospecção em aguas profundas não é isso?

    Jazidas de uranio não enriquecido!
    A maior jazida de URANIO NÃO ENRIQUECIDO, esta no Brasil, aonde?
    O que que a Bahia tem ?
    Tem muito a oferecer a paizes como esses.
    Mas a pergunta continua.

    Isso é bom ou é ruim?
    resposta
    È bom para paizes, que vão lucrar, com a exploração, o manuzeio e toda a conduta deste material.
    É ruim porque os fins destinaveis, não são para geração de energia, somente.

    Existe muito mais a querer do que a oferecer.
    Encerro dizendo uma coisa:

    _Quem tem a arma mais forte, manda, quem tem a arma mais fraca obedece, e quem não tem arma, não tem nada.Esse é o pensamaneto nato de um povo secular.

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