terça-feira, 3 de novembro de 2009

Artigo.

Ronaldo: 8 ou 80.


por Marlon Marques.



















































O Ronaldo é mesmo incrível. É capaz de coisas tão diferentes, como encobrir o goleiro Fábio Costa na final do paulista, quanto chutar portas em concentrações. Ele pode muita coisa mesmo, não só estar acima do bem e do mal. Ele pode oscilar do ridículo ao sublime, do sagrado ao profano. Ele pode ir da vitória das lesões á convulsão misteriosa [sic] da Copa de 98, da apoteótica atuação na final da Copa de 2002 ao episódio dos travestis. É um jogador realmente impressionante. Fenômeno? Eu nunca o achei. Grande jogador? Sem dúvida. Grande fazedor de gols? Sem dúvida nenhuma. Agora hoje não dá mais pra chamá-lo de fenômeno. Se foi um dia, cabe a crença pessoal de cada um, mas hoje. Hoje ele é o mesmo que o Romário há uns anos atrás, um misto de caricatura com persistente. Caricatura por continuar sem precisar. Do quê ele precisa mais afinal? Já conquistou tudo em sua carreira – será que precisa continuar oscilando tanto e em alguns momentos ser ridicularizado? Eu acho que não. Persistente porque ele força a barra da mesma forma que o Romário forçou. E ambos se humilharam (Romário mais) para ganhar um vaga na seleção. É muita hipocrisia da imprensa esse lobby para levar o Ronaldo. Ele não tem mais condições de jogar partidas tão duras como as das eliminatórias e Copa do Mundo. E por uma simples razão. Numa Copa do Mundo os zagueiros não iram pedir-lhe autógrafos. Os zagueiros não iram deixar-lhe passar como se ele fosse uma modelo numa passarela. Aqui no Brasil há uma devoção velada, uma admiração mítica, que se sobrepõe sobre o objetivo do jogo que é a vitória. O futebol é uma guerra simbólica. Não há espaços para trocas de elogios e carinhos. Numa Copa do Mundo todos querem ganhar, e tal qual as outras participações de Ronaldo em mundiais, sua marcação será dura. E aí é que está a outra diferença crucial. Outrora Ronaldo era outro jogador, que aliava duas características tão importantes em seu estilo. A velocidade e sua capacidade de marcar gols. Hoje somente a segunda se manteve intacta. Na Europa e no resto da América do Sul o futebol é mais duro. Certas faltas que os árbitros brasileiros marcam aqui, os árbitros desses continentes nem sequer olham para o lance. Então a pancada come solta, a marcação é mais dura e mais em cima. Veja a diferença do futebol italiano, alemão e argentino para o espanhol e o brasileiro. Nesse primeiros o campo é mais curto, as caras são mais feias e não há tietagem em cima de craques. Hoje o Ronaldo teria condições sim de marcar gols em uma Copa do Mundo, mas de decidi-la como decidiu os campeonatos no Brasil não mais. Ele envelheceu, engordou, e não é mais atleta [sem entrar em detalhes]. Hoje com a perda da mobilidade, se bem marcado, ele pode se livrar do primeiro marcador, mas em cima do lance, o segundo marcador logo rouba-lhe a bola. Veja o futebol mundial como está, todo na defensiva. Sem demérito, a Itália com um esquema com milhares de zagueiros ganhou a Copa do Mundo, e de quebra, Fábio Cannavaro, um zagueiro, foi eleito o melhor jogador do mundo. Os times são muito truculentos, rudes, pegadores. Tirando o Barcelona, os demais jogam com pedras e paus nas mãos esperando o primeiro partir pra cima. Ronaldo pelo que joga no Brasil e pela característica do futebol daqui, nada faria de mais especial numa Copa do Mundo. Há julgar pelo Ronaldo do mundial de 2006. Gols ele fez, era até óbvio. Mas o poder de decisão visto na copa anterior não foi o mesmo. Atuação discreta contra os franceses e eliminação. Ronaldo é uma mistura de ave Fênix com gato. Renasce das cinzas, mas as suas vidas são finitas (7). É falsa a crença de que todas as vezes que ele é humilhado, desacreditado, ele voltará por cima. Isso nem sempre acontece. Com tantas glórias em seu currículo, Ronaldo não precisava passar pelo que passou no jogo contra o Vitória no Barradão. As manchetes estampavam: “em atuação preguiçosa, Ronaldo pega na bola por 26 segundos”. É muito pouco para alguém que é o maior artilheiro de todas as Copas do Mundo. Chega a ser humilhante. 26 segundos é pouquíssimo. É quase nada. Para um jogador tão diferente assim, 26 segundos é algo impensável, improvável e impossível. Mas aconteceu. E ele é tão oscilante, que no jogo seguinte contra o Palmeiras, fez dois gols. Na Copa do Mundo não se pode contar com esse tipo de oscilação. Em 2002 ele foi constante, em 2006 ele oscilou. Os resultados foram esses, vitória em 2002 e derrota em 2006. O que falta para Ronaldo, faltou para Romário e para Edmundo. Terminaram melancolicamente suas carreiras tão brilhantes. Romário até conseguiu títulos e seus mil gols, assim como Ronaldo sendo campeão. E é justamente nisso que Pelé se diferencia de todos os demais. Soube parar na hora certa. Recusou ir a Copa de 74 não por medo, mas por saber que não era mais o mesmo Pelé de 70, isso em 4 anos. Nos mesmos 4 anos (que separam 2006 de 2010), será que Ronaldo seria a mesmo?





















































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