segunda-feira, 19 de outubro de 2009


Artigo.

A crença no exemplo.


por Marlon Marques.























































Um dos grandes argumentos a favor dos jogos olímpicos do Rio de Janeiro em 2016, é o de que haverá a valorização dos outros esportes. Acredito piamente que isso não irá acontecer, por dois motivos. 1. O Brasil é um país “mono esportivo” como definiu o professor Hilário Franco Jr. 2. Não se muda uma cultura em alguns anos. Em uma conversa recente com um amigo sobre esse assunto, esse amigo lembrou-me de um caso ao defender os jogos aqui. Lembrou-se ele do futebol [soccer] nos Estados Unidos. Ele argumentou que esse esporte era inexpressivo nesse país até a década de setenta. Pelé introduziu o esporte no país e aumentou o interesse por ele. Esse amigo me citou alguns êxitos da seleção americana nas eliminatórias da CONCACAF e em Copas do Mundo e Copas das Confederações. Eu disse a ele que sim, houve uma grande evolução e interesse, mas ainda sim inexpressivos. As universidade americanas não elegem o futebol como esporte de investimento. Tão pouco o futebol tem alguma chance nos Estados Unidos de competir com o Golfe, com o Futebol Americano ou com o Baseball – isso para não citar o Basquete. Aumentar o interesse ou o nível técnico é uma coisa, mudança cultural e resultados é outra. Acredito que os investimentos serão pontuais, logo os outros esportes serão esquecidos e as atenções voltadas para o futebol novamente. O Soccer nos Estados Unidos não causa a mesma comoção nacional que os outros esportes causam. E isso também acontece aqui. Nunca o tênis ou o vôlei, por mais épocas de ouro que tenham, irão ocupar ou rivalizar com o futebol. São fenômenos pontuais, sazonais, que tem dia e hora para terminar. Hoje a febre é “César Cielo”, amanhã será outro esportista. Quer um exemplo? O Robert Scheid é um super campeão no iatismo e esse esporte nunca foi popular aqui. Como explicou o professor Hilário Franco Jr., isso se deve as condições materiais de realização do esporte e as condições econômicas de acesso aos equipamentos. Mas e quanto ao basquete? Já tivemos Oscar, Paula, Janete e Hortência, mas se você analisar – mesmo com um crescimento desse esporte no Brasil, não chega nem perto do futebol. As condicionantes do professor Hilário, não se aplicam ao basquete. Toda quadra de escola ou praça póliesportiva construída pelo governo, vem com tabela e aro de basquete. Muitos garotos na periferia praticam o esporte, mas ele não tem a mesma pujança do futebol. Os Estados Unidos melhoraram muito no futebol, hoje jogam de igual para igual com muitas seleções importantes do mundo. Mas pergunte a eles onde eles se garantem mais, se é o no futebol ou no basquete, hockey no gelo ou golfe? E o Brasil onde se garante mais, no badminton? Acredito que mesmo os ufanistas ou otimistas, devem abrir os olhos contra esse falso argumento. Há que olhar além da superficialidade e ver o histórico do país. A tevê aberta não investe em outros esportes como investe no futebol. Veja o paradoxo. Segundo pesquisas recentes, a crise ética da F1 devido aos escândalos (Renault/Briatore/Piquet) recaiu sobre a audiência. Porque o mesmo não acontece com o futebol, mesmo depois da “Máfia do apito” ou dos escândalos de Luis Zveiter? Falávamos muito em Daiane dos Santos, o que aconteceu com ela e seu fenômeno? E porque então esses fenômenos não foram para frente? Duas razões possíveis eu aponto. 1. O brasileiro é modista. Isso significa que se está na moda hoje, eu adiro [verbo aderir], mas se amanhã já for outra coisa, eu mudo. O Brasil não é um país de longo prazo, e nem de médio, mas de curtíssimo prazo. Então, nada tem continuidade, o interesse dura pouco pelas coisas, em geral. 2. Transformações culturais são de longo prazo. Não há mudança de costumes, valores, preceitos ou hábitos em alguns poucos anos. De 1977 – ano da despedida de Pelé do Cosmos de Nova York á 1994, ano em os Estados Unidos sediou a Copa do Mundo, são 17 anos. Mais 12 anos decorridos desse Copa até hoje, são 29 anos. Não foi tempo suficiente para tornar o futebol tão importante para os Estados Unidos como os demais esportes. Muito antes dos clubes de soccer americanos existirem, os cidadãos americanos já tinham clubes de futebol americano, basquete e baseball no coração. Antes do Los Angeles Galaxy já havia o LA Lakers, antes do NY Cosmos já havia o NY Knicks, eles não foram substituídos e nem serão. O mesmo se dá aqui. No campo nacional também. Em 1970 o país parou para ver o tricampeonato da seleção de futebol, e o hino era: “90 milhões em ação, pra frente Brasil, do meu coração. Todos juntos vamos, pra frente Brasil, Brasil. Salve a seleção”. Nem mesmo o Ayrton Senna foi capaz de parar o país dessa forma. E nenhum outro esporte conseguirá. Não é nada contra os outros esportes, é apenas realismo. É somente uma visão de que não mudará a cultura esportiva do país por conta de uma Olimpíada, ou outro evento qualquer, sem que haja responsabilidade e planejamento. Não haverá investimento nos outros esportes, pleito já exigido desde antes do Pan do Rio. Embora as Olimpíadas sejam um evento bem mais grandioso do que o Pan, a promessa é mesma e sob a mesma condição. Será que vai ser diferente?

























































































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