domingo, 30 de agosto de 2009

Ensaio.

Michael Jackson: Uma questão de cor.


por Marlon Marques.








































Excetuando a própria família Jackson, Bryant, Queen Latifah, o mágico Johnson, Stevie Wonder e Lionel Richie podem apenas lamentar a perda do rei do pop como amigo. No caso de Michael Jackson não há como enveredar pela faceta racial elevando-o a status de grande artista negro. Esse Michael Jackson que morreu no último dia 25 de julho, não pode ser considerado um artista negro, pelo menos técnicamente falando. Michael Jackson era branco quando morreu – veja a diferença para o menino que cantou “ABC” e para o rapaz de “Billie Jean” – a capa do disco BAD já demonstra o processo de transformação. A crítica já disse que Joss Stone era branca com voz de negra, mas no caso de Jackson é um negro (genéticamente) na pele de branco. Musicalmente falando isso pouco importa, há artistas negros bons e ruins, assim como há artistas brancos bons e ruins, e não podemos ficar nos atendo a essas questões no que tange a inspiração. A questão é que Michael Jackson renegou o que era (negro) – ainda mais em um país como os Estados Unidos da América, chega a ser irônico o filho de Martin Luther King Jr. e Nelson Mandela terem se consternado tanto com a morte de Jackson. Até porque esses dois são ícones da luta pela igualdade racial (e dos direitos cívis) e Jackson não contribui nessa luta porque preferiu mudar de lado ao lutar. Não é uma questão meramente racial, pois “Off The Wall” e “Thriller” seriam grandes álbuns (tal qual o são) mesmo se Jackson fosse branco quando os lançou, a questão é que progressivamente sua qualidade foi caíndo como artista conforme sua postura humana (isso inclui a questão racial) foi mudando também. O negro americano sempre teve uma relação conflituosa com seu cabelo – mulheres sempre alisaram cabelos [afinal quem inventou as chapinhas e pranchas modernas], homens ou alisavam também ou raspavam [e ainda o fazem] – alisar os cabelos crespos não é uma prática condenável, entretanto, Michael Jackson foi além. Etnicamente falando os negros são todos de origem negróide, que possui como características genéticas pele escura, nariz largo, lábios grossos e cabelos crespos. Muitos negros de renome e prestígio [e dinheiro] alteraram algumas dessas características, não todas. Não sei se Jackson mecheu nos lábios, mas no nariz, no cabelo e na cor sim, e o pior foi a desculpa utilizada, a doença vitiligo. Talvez renegar a cor não seja necessariamente renegar a raça, mas é sobretudo um primeiro passo. Portanto celebrar esse evento lamentável [a morte de Jackson], como a morte de um grande artista negro acho precipitado. Jackson teve vergonha do fato de ser negro, e nem ligou para o fato de que negros como ele [era] poderiam contrariar seu destino e chegar ao estrelato. Jackson fez toda sua carreira a base de música negra – que é a base de quase 80% da música de qualidade americana – e isso então me faz compara-lo com os brancos sulistas racistas, que usaram os negros mas os desprezavam. O sentimento de inferioridade do negro não é uma exclusividade de Michael Jackson. O ocidente renega as contribuições do negro na construção do que hoje é o mundo. Na América então esse processo é muito mais acentuado. Das propagandas as novelas, dos filmes as universidades, passando pelas empresas e pelos altos cargos, os negros são timidamente uma minoria. As crianças são logo cedo doutrinadas a considerarem os negros inferiores, muitas nem se quer chegam perto de negros com medo, afinal na África somente existem tribos de canibais. Jackson talvez tenha sido uma dessas crianças que cresceram acreditando na superioridade branca, e por isso tenha se tornado branco. Essa talvez tenha sido sua maior excentricidade, a mudança de cor. Algo totalmente impensável, pois a cor e o nome são os traços mais marcantes da personalidade humana, cor dos olhos, dos cabelos, corte de cabelo, roupas, tudo isso se aceita mais facilmente, agora cor e nome não, isso diz exatamente quem você é. Michael Jackson não quis ser negro essa é a verdade, e por isso se afastou de todas as características que o faziam ser negro, não apenas a cor da pele. O mais irônico é que na canção “Black Or White” de Dangerous, Michael Jackson quis se redimir desse feito dizendo no refrão: “não importa se você é preto ou branco”. Fica a questão, se não importa se você é preto ou branco, porque então mudar de cor?
























































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