quinta-feira, 30 de julho de 2009


Ensaio.

Meninos e Meninas: O diagnóstico de nossas vidas sempre.


por Marlon Marques.


























Desde sempre “Meninos e Meninas” soa atual. Não importa que essa seja uma canção de duas décadas atrás, não há anacronismo. O mesmo marasmo dos anos oitenta foi o dos anos noventa, que é o mesmo dos anos dois mil. A vida sufocante das grandes cidades esmaga nossa identidade, precisamos descobrir quem somos, temos necessidade de saber quem somos, em detrimento do que dizem que somos. Todos os lugares são iguais, tudo é exatamente igual, em todos os lugares as pessoas são iguais, em seu desespero ou em sua angústia, até nas alegrias as pessoas são iguais [as pessoas se sentem felizes por migalhas]. Se pensarmos bem, que sentimento de pertencimento nós temos em relação a essa sociedade em que estamos inseridos? Nenhum. Quantas vezes também não nos perguntamos [nesse caso em oposição a Renato Russo que afirma] se realmente somos parte disso, ou seja se somos isso de fato? Vivemos numa verdadeira confusão, é uma Babel onde ninguém se entende, ninguém se ama e ninguém se respeita. O imperativo dessa sociedade é o “eu”, tudo na primeira pessoa. De certa forma – e de forma poética e velada – Russo faz uma crítica ao capitalismo nessa canção, mas isso ficará mais evidente adiante. Uma das implicações do sistema é a alienação, a perda da noção das coisas e a desesperança. “Vai ver que é assim mesmo e vai ser assim pra sempre”, quantos de nós nunca pensou assim? As vezes olhamos as coisas erradas do mundo e dada a freqüência em que acontecem, nos estatelamos de conformismo e penar e pensamos que não mudará. É claro que nesses tempos, “exército de um homem só” é honorífico, mas contraproducente, é apenas um combustível de nossas esperanças, mas que logo esgotará com o choque duro da realidade. Russo se diz cansado de bater e ninguém abrir, nós também estamos cansados. Nascemos cansados de tudo, da luta, da vida, do castelo de cartas marcadas. É como correr rumo ao horizonte, que é uma linha imaginária que se distancia mais conforme você se aproxima. “Fui teu amigo, te levei comigo e me diz: pra mim o que é que ficou?”, no que nos transformamos. O que somos afinal. Somos lobos numa selva se degladeando por existir, por isso essa confusão, por isso essa falta de respeito, e é por isso que Russo diz em “Há Tempos” que “ter bondade é ter coragem”. E todos estamos perdidos nessa selva, porém alguns olham por entre as árvores e se questionam se de fato pertencemos a isso tudo. O que ficou pra mim, pra nós? Apenas o gosto amargo no fundo do copo, a sensação de que fazer o bem é besteira, é apenas uma retórica barata e que devemos apenas pensar em si mesmo. Essa estrutura cria as condições do egoísmo, nascemos e morremos sob o signo do individualismo, temos que ser sempre o “melhor”, mesmo que para isso tenhamos que utilizar de expedientes espúrios, não é Maquiavel, “os fins justificam os meios”. No sistema capitalista a culpa não é de ninguém e é de todos, a culpa é do sistema e da apatia com que aceitamos ele. Nós queremos isso, nós queremos. Os verbos favoritos são o verbo “ter” e “querer”, e não importa o amor, a amizade e outros valores tolos, afinal, pra mim o que é que fica? Viver é bom, isso sabemos. Só não sabemos como, onde e porque? Não há motivos, nem razões, mas há uma força maior que me leva a crer que ainda há uma luz no fim do túnel, mas em seguida vem mais uma vez o choque da realidade: “Não é a vida como está, e sim as coisas como são”. O próprio capitalismo cria as esperanças para nos mantermos em pé, nos faz acreditar na inversão da equação [de: a vida é e não está, para a vida está e não é], veja a ironia, a nossa própria força vem do sistema que nos oprime e enfraquece. Isso é uma grande mentira, e cegos, surdos e mudos, acreditamos. “Preciso de oxigênio, preciso ter amigos, preciso de dinheiro, preciso de carinho”, precisamos sim. Mas de quê? Quem diz do que precisamos, quem determina? A questão é: “preciso precisar apenas do que necessito”, não necessito precisar do que não preciso, e é isso que o sistema nos faz crer, como um mantra, um credo, você precisa do que não precisa. Renato Russo emula os Titãs em “Comida”, agente não quer só dinheiro, agente quer oxigênio, carinho e amigos. No final “são tudo pequenas coisas”, que se tornam grandes, que nos dominam e nos deixam infelizes, nos fazem inverter a lógica, tornando a lógica ilógica. Meninos e Meninas é uma mensagem contra o conformismo e contra a vida apática das pessoas que se fecham em si mesmas, é contra a infelicidade e a favor do amor, a favor de todas as formas de amar, pois como Russo já cantou certa vez, “é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã”.





































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