sábado, 18 de julho de 2009

Ensaio.

Por ninguém, pra ninguém.

por Marlon Marques.













Esses dias eu estava lembrando que no ano passado (2007), completou-se 40 anos do lançamento de Sgt. Pepper Lonely Hearts Club Band, álbum esse que até hoje é considerado o maior feito pelos Beatles em toda sua carreira. É claro que não deixa de ser louvável esse fato, ainda mais por que grande parte da imprensa musical de relevância opinou nessa direção, mas o mais curioso nisso tudo, é que em 2006, não se comemorou 40 anos do grande Revolver, mas porque?

Talvez seja pelo fato de não ter-se tido tempo suficiente para aprecia-lo, pois era comum na época lançar um álbum a cada ano, e não a cada dois ou três como hoje, pois se ganha muito com as turnês, além de que os artistas atuais não possuem tanto talento assim para lançar grandes álbuns todos os anos. O caso mais expressivo que me ocorre agora é o Radiohead, que emplacou dois colossos musicais em seqüência, claro que não no ano seguinte ao primeiro lançamento, The Bends em 1995 e OK Computer em 1997. Então, em uma época tão fértil, tão cheia de grandes artistas e grande obras, Revolver ficou quase que ofuscado com o intenso brilho de Sgt. Pepper. Porém, não há como não se empolgar ao ouvir Revolver de faixa a faixa, pois consegue ser ao mesmo tempo inovador e conservador, moderno e antigo, agradando a todos os tipos de público, ora com sutileza de Here, There, and Everywhere, com a alegria de And Your Bird Can Sing, ou o hippismo de Yellow Submarine e She Said She Said, além das várias versões feitas por artistas de diversos gêneros. É só conferir na trilha sonora do filme “Uma Lição de Amor”(I Am Sam) com Sean Penn e Michelle Pfeiffer, a faixa número nove I´m Only Sleeping interpretada pelo discutível The Vines, e que está ótima, é um pouco mais rápida que a original, mas grandiosa e fresca como se fosse bem atual, e é nisso que os Beatles se saem melhor, é nessa vivacidade.

Também nessa linha ouvi lindamente interpretada, a canção que considero a melhor de Revolver, For No One, primeiro na voz de Caetano Veloso em 1975 no álbum Qualquer Coisa, revestida numa roupagem bossa novística, a música se revigora numa caetanidade, com direito a início assoviado e violão marcado, Caetano imprime seu inconfundível sotaque carregado a um inglês quadrado que ficou ótimo, e depois uma versão terminal feito pelo grande Elliott Smith, toda sussurrada do começo ao fim, Smith coloca uma emoção tão grande na canção, que chega a dar a impressão de que essa seria a última música que cantaria na vida. Mas nada é igual ao original, é como um quadro, por mais que a réplica sirva muito bem em nossa sala, nada se compara a ter um original, e nesse caso também, pois é lindo aquele começo com Paul ao piano e Ringo marcando de leve na bateria, a voz do mesmo Paul com uma firmeza e uma seriedade talvez não antes vista, anuncia os primeiros versos que conduziram a música até o derradeiro refrão. Nota-se um flerte do piano numa escala Mozartiana, algo realmente clássico, e numa música pop, para vermos o nível em que estavam o quarteto de Liverpool, porém o ponto mais lindo da música é o solo de trompa lá por volta dos 51 segundos, mágico, angelical. A letra fala de abandono e saturação em uma relação, uma situação de extrema dependência de alguém para com o outro, ao ponto de não aceitar a separação e buscar em falsas evidências aquilo que você gostaria que fosse. Isso fica claro na letra quando ele diz: “No entanto você já não acredita nela quando ela diz que seu amor já morreu…”, esse pensamento é claramente uma forma de amenizar a própria dor, pois você acredita piamente no que diz o refrão: “Um amor que deveria ter durado anos”, mas que agora você não aceita que acabou. O dia começa e seu mundo começa também a ruir, pois “você descobre que todas as coisas gentis que ela disse, não fazem mais sentido”, pois sua companheira acorda e sem pressa se maquia, toma lentamente seu café prenunciando sua saída, demonstrando uma indiferença inexplicável, pois como alguém que dividirá com você todas as coisas, até as mais intimas por tanto tempo, hoje o vê como um estranho. E o mais triste dessa história, é que o amor é tão sublime, que chega a admitir que “haverá um dia em que todas as coisas que ela disse, encherão sua cabeça, mas você não conseguirá esquecê-la”, e mesmo depois de quase rastejar-se pelo chão numa súplica desesperada, ela nada expressa, “e nos olhos dela você não vê nada, nenhum sinal de amor atrás das lágrimas choradas por niguém” (for no one).


























































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