quinta-feira, 23 de julho de 2009

Artigo.

Paulo e o contra-senso da obediência as autoridades.


por Marlon Marques & Dirce Dalila.


























“Todo homem esteja sujeito as autoridades superiores, porque não há autoridade que não proceda de Deus, e as autoridades que existem foram por ele instituidas”, essa afirmação de Paulo em Romanos 13 é no mínimo suspeita, pois não há sustentação em outras passagens da bíblia. Se pararmos para pensar bem, o povo de Deus [Hebreus], e depois os cristãos, sempre foram dominados e conquistados por povos invasores, tais como os Babilônicos, Persas, Assírios e Romanos, sendo que após esse processo de conquista, tais povos [cada um em seu momento], tornaram-se a autoridade local. Então é correto afirmar que tais autoridades são legitimas? Se submeter a certas autoridades, especialmente os Romanos, é o mesmo que negar a própria fé, pois antes do império ser cristão, o era pagão, e tendo imperadores como Juliano e Deocleciano, atrozes perseguidores do cristianismo, como estar ao lado de tal autoridade. O martírio dos santos [considerados pelo Vaticano] ou o kidush hashem dos judeus são atos de resistência, morrer [não morrer matando] pela fé é digno, manter-se firme no que acredita é digno, e isso ocorreu muitas vezes por conta de perseguições das autoridades locais. Na sequência de Romanos 13, no versículo 2, Paulo diz: “de modo que aquele que se opõe a autoridade resiste a ordenação de Deus, e os que resistem trarão sobre si mesmos condenação”. No contexto que Paulo viveu [século I, nasceu em 9 d.c. e morreu em 64 d.c.] foram imperadores, além de Claudio, Tibério e o primeiro deles Otávio, os megalomaníacos Nero e Calígula. Soberanos ególatras e afeitos ao excesso, consideravam-se como deuses e partilhavam em comum além dessas características, o ódio pelos cristãos. Da perspectiva cristã, como se submeter a uma autoridade que o persegue sem renegar sua própria fé? Outro ponto é, se Paulo diz que não se deve resistir a autoridade, então deve-se se submeter a ela, e nesse caso então significa aderir as ordens e segui-las estritamente, portanto, nesse contexto segundo Paulo, o melhor seria aderir ao paganismo [seguir as autoridades]. Segundo Lucas no Ato dos Apóstolos 22:27, Paulo é cidadão romano – inclusive também perseguidor de cristãos – e porque então ao escrever a comunidade romana os aconselharia a obeder o império que os perseguia. Seria uma forma de não perder os benefícios de sua cidadania romana? Históricamente sabemos que cidadãos romanos não eram mortos [se condenados] através das piores execussões da época – fogueira, leões e cruz. Eram mortos de maneira mais digna e também menos dolorosa. É só compararmos as mortes de Pedro e de Paulo, o pescador judeu foi crucificado, enquanto que Paulo foi decapitado, além de ter tido direito a prisão domiciliar quando foi detido. Críticos apontam para o fato de que talvez o texto tenha sido adaptado pelos redatores dessa epístola [uma vez que a crítica aponta que muitas epístolas não tenham sido escritas por seus autores atribuidos, mas sim por seus seguidores e discípulos, que em homenagem creditavam e eles a autoria]. Dentro de um contexto em que o cristianismo é a religião oficial do império, não ficaria de bom tom que as atrocidades romanas fossem explicitadas, dando em então um certa suavizando a história, redimindo o império por seu reconhecimento e adesão a palavra de Cristo. No livro de Ester 4:17, há uma contextação a essa afirmação de Paulo: “Não me prostrarei diante de ninguém, a não ser diante de ti”, ou seja, é somente Deus digno de submissão – assim como no Islã posteriormente – e não há a menor vinculação entre Deus e as atrocidades de certos imperadores, ou até mesmo de reis como Nabucodonosor e Sargão II, e não há como afirmar que tais autoridades venham de Deus, mesmo que esse seja onipotente. Embora Deus tenha mudado sua forma de atuação do velho para o novo testamento, seu filho o pregador do amor, não partilhava da mesma opinião de Paulo. Algumas pregações de Jesus iam contra a ordem estabelecida, tanto a da monarquia judaica, quanto a do império romano. Embora tenha dito que seu reino não era na terra, o amor fraterno de Jesus estimulava a libertação das pessoas, tanto espiritual, quanto existêncial – uma vez que o modo de produção em Roma era o escravismo. Ao aceitar a palavra de Jesus e crer nele, acreditava-se que apenas a autoridade de Deus era mais importante, e que a César somente lhe pertencia o tributo [Mt. 22, 15-22].


























[A conversão de São Paulo a caminho de Damasco - Caravaggio, 1600-1601].







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