Chuva, desespero, proporção, precisão, êxodo e problemas.
por Guy Anderson & Marlon Marques.


Se chove você reclama. Se não chove você também reclama. Se fraz frio você reclama, mas se faz calor também você reclama. Como é bom pra você então? A resposta é proporção. Mas vamos chegar a ela um pouco depois nesse texto. O nordeste tem sofrido bastante nos últimos tempos com as fortes chuvas [especialmente o Ceará e Alagoas] – o mesmo tendo acontecido com Minas Gerais, São Paulo e Paraná em alguns momentos – porém essa afirmação suscita uma questão, mas porque reclamar de chuva no nordeste se o nordeste é quem mais precisa dela? Depende! O nordeste também sofreu com a divisão internacional do trabalho, só que aqui é a divisão nacional, onde o sul e o sudeste ficou com a indústria e o nordeste mais agrícola. Então, fortes chuvas prejudicam as plantações, ao passo que sem chuva não há como essa plantação progredir, por isso é necessário proporcionalidade. As chuvas causam alagamentos, e consequentemente proporcionam desabrigados, perda de móveis e desespero. A falta de chuvas também causa desespero, e traz como consequência o êxodo. Milhares e milhares de famílias dependetes da agricultura abandonam suas terras por falta de perspectivas, pois até quando esperar a chuva aparecer, pois só as lágrimas derramadas não são suficientes. O melhor retrato pintado [cantado] dessa situação é “Paraíba” de Luiz Gonzaga. “Quando a lama virou pedra e mandacaru secou – quando o ribaçã de sede bateu asas e voou – foi aí que eu vim me embora, carregando a minha dor”. Gonzaga desconstrói a situação mostrando o ápice dessa calamidade, o rio quando seca deixa apenas lama no lugar da água – agora quando a lama vira pedra, é porque realmente a esperança está no fim – outro inidício é quando o mandacaru [planta] amarela, trasmuta-se do verde para o amarelo, perdendo a vida. Da mesma forma que no gênesis bíblico, uma pássaro anúnciou o fim do dilúvio, a seca nordestina é anunciada por um pássaro, o ribaça, decretanto o fim de um ciclo, onde a contínuidade é um mixto de ato de fé, desespero e suicídio. Gonzaga talvez não previu que essa situação fosse se estender para além do século XXI, causando graves problemas de densidade populacional. Esse problema se dá de duas formas, ou se migra do agreste para a cidade [no mesmo estado], ou para outro estado. Nos dois casos ocorrerá inchaço populacional – disputa de emprego, de recursos básicos, infraestrutura – gerando má prestação de serviço na tentativa de atender a todos, ou deixando muitos sem o serviço. No caso do nordeste, as cidades possuem menos poder econômico e os estados recebem menos verba da união, então, mesmo as capitais [grandes cidades por sinal] não conseguem dar conta dos migrantes do interior. No sudeste o problema ganha dimensões diferentes, pois mesmo os empregos menor remunerados ou menos prestigiados são pleitados por todos, e quando alguém de outro estado consegue a vaga [geralmente do nordeste], ocorrem manisfetações de revolta como as dos movimentos dos carecas ou dos boneheads, culpando esses migrantes de roubarem os empregos dos naturais desse estado. Esse problema poderia ser resolvido caso a chuva ocorresse nos lugares certos [não ocorreira o êxodo]. É bom que chova no nordeste, porém de preferência nas áreas que mais carecem da chuva, como o interior e no alto sertão. Ou seja, é uma questão de precisão, de chover no lugar certo e na proporção certa, pois nem mesmo no sertão deve chover tanto, pois há consequências também no excesso de chuva. Agora o homem reclama de tudo e põe a culpa na chuva – ora porque é forte demais e vem acompanhada de ventos, ora porque não veio no lugar certo, na proporção certa, ora porque não veio, ou porque já está tempo demais sem aparecer – se esquecendo que a culpa na verdade é dele, que provocou todas essas mudanças no clima. O homem só comprova que em tudo que põe a mão ou ele destrói ou transforma para pior – e que no caso das fortes chuvas ou da secas, o homem pode mudar de lugar, mas no caso das alterações do clima não, é um problema uniforme. Uniforme no sentido de que é um problema em escala global, onde cada lugar sofrerá de acordo com suas características específicas, e não adiantará muito fugir de um lugar para outro em busca de condições melhores, ou o homem viverá fugindo de suas próprias fugas, como

Luiz Gonzag - Prêmio Shell Para a Música Brasileira [1984]
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Notas.
1 - Retirantes - Rodrigo Carvalho.
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