quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Screaming Trees – Dust.



















Screaming Trees – Dust.

Se você ouvir alguém dizer que o Screaming Trees é grunge, suspeite dessa afirmativa, porque o grunge além de ser um mero rótulo midiatíco, marca apenas o ínicio da carreira da banda (final dos anos 80). Digo isso pelo se ouve no álbum “Uncle Anesthesia” de 1991, a revista Showbizz em resenha do álbum em 2000 se refere a ele assim: “com capricho especial nas letras e vocais, mostra virtuosismo e poesia onde, em princípio, não teriam de existir”.[1]

Isso significa que a proposta do Screaming Trees mesmo sendo do estado de Washington, e orbirtar Seatlee e ser inserido no movimento grunge, era de ampliar os horizontes (beyond), ir além do que peso, sujeira e urros. Diria que numa analogia, Uncle Anesthesia é a extração do petróleo, Sweet Oblivion o refino e Dust o produto acabado, pois o álbum é de uma preciosidade assombrosa. Dust embora tenha seus libelos reconhecidos, teve sua importância reconhecida tardiamente, pois os lançamentos no mesmo ano de 1996 de Jagged Little Pill de Alanis Morissette, Odelay de Beck, além de álbuns de Marilyn Manson, Fiona Apple e Sepultura, ofuscaram o brilho do álbum. Dust é de uma técnica impressionante, canções meticulosamente cauculadas, entre baladas pop e canções de estrada, no bom estilo do ST. “Halo of Ashes” é uma canção forte, com bateria tribalizada e arranjos indianos de guitarra, já “All I Know” e “Look At You” são músicas gêmeas, quase continuação uma da outra, andamento lento, arrastado, solos e a grandiosa voz de Mark Lanegan. Uma das fórmulas utilizadas pelo ST na composição das músicas, e principal característica dessas duas citadas, é ínicio lento, corpo da música crescente e refrão mais pesado, e pesado nas palavras também, o refrão de Look At You diz: “A calma corta-me através da vela queimada[…]”. O maior momento do álbum fica sem dúvida por conta do hit “Dying Days”, hit entre aspas, porque não foi uma música executada à exaustão pelas rádios ou comentada pelas pessoas, digo hit no sentido de que entre os que ouvem a banda, apontam essa música como a mais expressiva do álbum, apesar das demais serem também de altíssimo nível. O ínicio é meio folk, violões anunciam a entrada triunfal do arranjo empoeirado aos 0:34 segundos de música, o som é um tanto hipnótico e inebriante, Lanegam parece prenunciar o futuro ao dizer “todos esses dias morrem”, tudo fica para trás, tudo perece, numa conexão com o consumismo ou com a vida, que acabará, porém ele (Lanegan) vê “um homem santo”, que talvez seja o redentor das vidas perdidas e esquecidas na cidade fantasma da música.

“Dying Days” trata de redenção, das vidas que se acabam nos confins do mundo, longe dos olhos de todos, mas que encontra consolo numa oração, como diz a letra. As levas de guitarra ganchudas, dão corpo à música, deixando-a ora suave ora raivosa, mas é sem dúvida a voz de Lanegan o elemento chave dessa canção, “escurecendo o céu sobre tudo isso paira a voz de Mark Lanegan, de uma beleza corrosiva”.[2]

De fato, não há como não ressaltar a magnitude de tal atributo, é uma voz reconfortante, macia como veludo, incorpada como um bom vinho e forte como um búfalo das áridas planícies, Mark Arm vocalista do Mudhoney diz: “ele tem a voz mais fantástica de Seatlee”[…]”é uma garganta abençoada[.]”[3] O disco segue com “Make My Mind”, uma bela canção pop sobre se arrepender de algo que tenha feito de errado para um grande amor, “Sworn And Broken” é o equivalente do álbum a Dollar Bill, uma autêntica balada, fala sobre a esperança em dias melhores, “eu juro que esse mundo não será o mesmo em que nós vivemos um dia, faça um juramento[…]”, é uma letra primorosa que merece ser lida na integra. O outro grande momento do álbum é “Witness”, hit também, porque não, canção urgênte e pulsante, onde Lanegan disfere metaforicamente o estilo de vida que estava começando a levar, fumando muito, bebendo muito e usando muitas drogas, nota-se no final da turnê de Dust o quanto Lanegan está extremamente magro, numa aparência quase cadavérica.[4]

“Traveler” é a canção mais lenta do álbum, arranjo de cordas e dedilhados com delay, linda música, quase sussurrada por Lanegan, sobre redenção também, o verso “o caminho mais longo que eu viajei, à partir da escuridão para a luz[…]” é o mais significativo, “Dime Westen” segue a linha de Witness, porém psicodélica, marcação de bateria e efeitos wha wha dão a tônica da música. O disco se encerra com “Gospel Plow”, é uma canção espiritual, um apelo contido no álbum todo, ora mais explicitamente, ora mais discreto, essa temática conduz o álbum ao longo das canção, o destaque dessa última faixa é o uso de mellotron, violoncelo e nuances indianas como em Halo Of Ashes. Dust sem sombra de dúvidas é um grande álbum, e assim como acontece sempre, os fãns, a mídia e a indústria sempre esperam repetições de fórmulas de sucesso, empacotadas e dispostas em prateleiras, mas é justamente ouvindo com atenção cada um das 10 faixas e sobretudo deixando-se levar pela bela voz de Mark Lanegan, é que se terá a exata noção da definção que a Rolling Stone fez do álbum, “inspirado”.[5]



[1] YADA, RENATO. Para entender o grunge. Show Bizz, São Paulo, Edição 185, n. 12, p.69, dezembro. 2000.

[2] DIMERY, ROBERT. 1001 Discos para ouvir antes de morrer. Rio de Janeiro: Sextante, 2007. p.773.

[3] MARCELO, CARLOS. Sub Pop: A vida após o Nirvana. Show Bizz. São Paulo, Edição 191, n. 6, p.27, junho. 2001.

[4] MARCELO, CARLOS. Idem.

[5] DIMERY, ROBERT. Idem.


Marlon Marques.

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