Crítica.
Zizi Possi - Um Minuto Além.
por Marlon Marques.

Sempre tive uma antipatia por Zizi Possi. Sabe aquela implicância sem fundamento, só por de repente ou não ir com a cara ou por mero desconhecimento, era isso. Anos depois eu descobri uma parte do motivo: era por conta de sua filha, a também cantora Luiza Possi. Nunca vi nada na Luiza Possi a não ser uma tremenda barra forçada – sabe aquilo de aparecer a todo custo, isso. Mas nada como o tempo, a maturidade e principalmente o aprendizado crítico que se consegue com o: tempo. Se eu disser que hoje sou fã de Zizi Possi estarei mentindo, e se disser isso de Luiza Possi então, cometerei uma mentira ainda maior. Mas hoje eu confesso humildemente que reconheço nas duas o talento devido – principalmente na mãe, Zizi. É claro que o já falado tempo, gasta as coisas, e Zizi hoje já não apresenta o mesmo vigor de antes, mas como ainda canta bem. Agora a Zizi Possi do início de carreira cantava fácil – com energia e potência sim, mas cantava como que conversando, suavemente. Minha primeira lembrança de Zizi Possi vem de “Per Amore” – o que talvez explique a outra parte da minha antipatia, mas o fator decisivo que fez mudar de vez a visão sobre Zizi Possi foram os homens. Dois na verdade e para ser mais preciso: Chico Buarque e Eduardo Dusek. Por causa de Chico ouvi Zizi cantando “Um Pedaço de Mim” e Dusek me apresentou Zizi de uma forma esplendida no álbum “Um Minuto Além”. O disco de 1981 é o quarto da carreira da cantora – e compositora, descoberta por mim justamente nesse disco. Um disco fantástico, com músicas ótimas e uma cantora em plena forma. Músicas simples, com ótima poesia – começando pela bela “Caminhos de Sol”: “o amor fez parte de tudo que nos guiou, na inocência cega, no risco da palavra amor”. Sonoramente não há muito o que dizer, é música pop brasileira – MPB, flertando um pouco com o jazz e até com o rock. Zizi Possi abusa dos instrumentais – lança mão de vários tipos de saxofones (barítonos, altos e tenores), percussão, piano acústico, cordas, trombones e trompetes – criando climas de intimidade como em “Cá Entre Nós” – de sua autoria. A música tem um suingue todo especial, Zizi conversa com o ouvinte, bem ao pé do ouvido – cantando (ou falando) sobre um fim de relacionamento. E segue íntima em “Never Dreamed You´d Leave In Summer” de Stevie Wonder, num arranjo emocionante. “Engraçadinha” também é uma grande canção – trilha sonora do filme homônimo, traz uma bela poesia musicada, com destaque para as flautas e para o show do trompete com surdina – magistral. Até a clássica “Agora Só Falta Você” de Rita Lee, ganhou uma roupagem nova, mais moderna, com um arranjo que lembra muito Caetano Veloso com a Outra Banda da Terra. “Eu Velejava Em Você” é a música que me trouxe a esse disco como um canto de sereia. A letra é de Eduardo Dusek – mas a interpretação de Zizi Possi parece dar-lhe posse dessa canção. Essa versão ficou muito orgânica – um arranjo singelo, moldura perfeita para a voz doce e suave de Zizi, dando outra dimensão ao cancioneiro de Dusek – sempre marcado pelo humor. A melhor canção do disco eu considero “Assim, Assim” – magistral. Do arranjo a letra, da execução instrumental a execução vocal, lembra um bar numa noite quente, com uma boa companhia, um bom papo e um bom drink. Lembra também coisas antigas e boas do Ivan Lins. Canção forte, fala de recomeço, de nova vida pós-relacionamento – “registra minha partida, no arquivo da sua vida”, além de sacadas geniais como: “se continuasse assim, assim, um dia a gente ia terminar saindo pela tangente ou desidratado de tanto chorar” – uma lição e tanto para quem está por um fio e não sabe como acabar. O disco acaba com duas boas composições de Zizi, a lenta e ótima “Melodia” e a climática e curta “Constatação”. Esse disco me fez olhar para Zizi Possi de outra maneira, e me fez ouvi-la também de outra maneira, agora como uma grande cantora da canção brasileira. Isso me fez ir atrás do resto de sua discografia, e estou gostando muito do que ando ouvindo – faça você também o teste.
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Zizi Possi - Um Minuto Além. (Philips, 1981).
download.
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Antipatia? quem nunca teve né?
ResponderExcluirSó que nesse caso aqui, era uma antipatia sem conhecer muito. Aquela velha mania humana de julgar sem conhecer. Mas hoje se desfez, gosto bastante de ouvir a Zizi Possi.
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