quinta-feira, 6 de maio de 2010



Artigo.

O Alienismo.

por Marlon Marques.





























Desde há muito tempo, ouço sobre a rivalidade entre pagodeiros e roqueiros. Os pagodeiros acusam os roqueiros de serem muito durões, de curtirem uma música barulhenta e de gostarem mais de coisas estrangeiras do que nacionais. Por outro lado, os roqueiros chamam os pagodeiros de alienados. Essa alusão diz respeito ao fato de os pagodeiros não serem cultos, versados em assuntos importantes como artes, filosofia, história ou política. Os pagodeiros são acusados de não terem consciência dos problemas sociais e não terem nenhum tipo de engajamento político – o que nos faz crer que os roqueiros o tenham, uma vez que criticam essa ausência nos pagodeiros. Pois não é bem o que eu vejo atualmente. Já no final do século XX, bandas como o Nirvana já davam sinais de apatia em suas letras. O desencanto com o mundo já era cantado pelas bandas pós-punk na segunda metade dos anos oitenta como uma premonição do que estava por vir. Se o punk dos Ramones trouxe ao rock a diversão de volta, o punk do The Clash veio mostrar ao mundo que o rock não se faz só de diversão. O rock surgiu como diversão, já que rock n´roll é uma gíria para rala e rola, uma alusão ao sexo nos anos 50 e também uma forma descontraída dessa prática. Porém em países como o Brasil onde outros ritmos predominam, o rock sofre discriminações e é mal visto pela população em geral. As igrejas neo-pentecostais difundem ideias onde o rock é considerado música diabólica, o que faz desse gênero ainda mais marginal por terras tupiniquins. É claro que o pop rock nacional ajudou a tirar um pouco dessa mácula do estilo, mas em compensação outras vertentes, sobretudo pesadas, sofrem ainda grande desconfiança. Porém o que quero abordar, é que o rock têm uma função social diferente dos outros estilos musicais. Seu envolvimento com a vida cotidiana e política é tamanho, que muitas bandas se engajam não apenas nas letras de denúncias, mas também na vida real. É só lembrarmos por exemplo do Live Aid de Bob Geldof ou do Tibetan Freedom Concert organizado pelos Beastie Boys. Não há iniciativas desse tipo por artistas de pagode no Brasil, exceção feita apenas a uma ação realizada pelo grupo Art Popular, no mais, ninguém toma iniciativa sozinho, precisam de grandes estruturas como Criança Esperança, Teleton, entre outros. Grandes nomes do rock se envolvem em causas humanitárias, sociais, políticas, ambientais, seja ativamente ou com letras, artigos, fanzines, vídeos, ou qualquer forma de interação que atinja pessoas nos quatro cantos do planeta. Nomes não nos faltam, Jello Biafra, Chrissie Hynde, Bono Vox, Ian MacKaye, Henry Rollins, Eddie Vedder, Zack De La Rocha, entre outros, porém todos do mundo do rock. É claro que não está escrito em lugar nenhum que os artistas precisam ser engajados. Porém é necessário levar ao público ao menos uma mensagem de diferença, de que está ciente das coisas que acontecem no mundo e da responsabilidade que um artista têm. Porém hoje o público rock parece se igualar com os pagodeiros na apatia e na alienação. O intelectualismo no rock está restrito há uma meia dúzia de cabeças – seja na mídia oficial, seja na blogosfera, seja no público que freqüenta os shows e a galeria do rock. Rock é cultura e informação, e na era da globalização não se justifica o fato de as pessoas serem tão obtusas e desinformadas. Os chamados roqueiros não lêem revistas e livros, se ocupam apenas em beber, usar drogas e tomar camisetas dos mais fracos e também desinformados. Resumiu-se a isso a tão falada atitude no rock. Recentemente a editora Conrad, lançou quatro títulos importantíssimos na área de critica de música, especialmente rock. Quatro nomes do mais alto gabarito, Greil Marcus, Simon Reynolds, Nick Tosches e o mítico Lester Bangs foram traduzidos para o português afim de vender é claro, mas também de trazer-nos autores seminais da melhor estirpe dos escritores do rock. Livros que fazem o leitor ir mais além e enxergar o rock como um fenômeno mais totalizante, com relações que vão da psicologia de massas a questões antropológicas, do existencialismo ao uso da música como resistência política, e da sociologia a filosofia. Mas quem disse que o jovem de hoje quer pensar. Ninguém está interessado em saber mais, em ampliar horizontes, e é costumeiro ver jovens em cursos, em rodas ou no transporte público com camisetas de banda dando de intelectuais sob essas condições pré-postas falando absurdos sem tamanho. Fruto desse processo de alienação e despreparo. É só ver o que aconteceu com as grandes revistas que abrigavam os melhores críticos, como os citados acima, morreram todas, ou melhor, se transformaram em sub-produtos da indústria comercial da música. Dá desgosto ler hoje à famosa NME ou a velha Melody Maker, o que aconteceu com a Showbizz. Houve épocas em que desfilavam pelas páginas da brasileira Bizz, nomes como Zeca Camargo, Thomas Pappon, Ana Maria Bahiana, Arthur Dapieve, Carlos Calado, Pepe Escobar, Camilo Rocha, André Forastieri, Arthur G. Couto Duarte, entre outros, e embora estejam na ativa ainda, não estão mais reunidos sob uma mesma publicação. A MTV é uma das evidências desse processo, se comercializou, tornou-se como as outras e mudou sua programação para atender uma nova demanda de jovens, ávidos por uma alienação camuflada de engajamento. A emissora canal 32 mandou embora quem fazia a diferença no sentido de levar ao rock sentido e intelectualização, Kid Vinil e Fábio Massari. Não houve mais espaço para uma cultura elevada dentro da emissora, em seus lugares apresentadores teens com as cabeças cheias de nada, cegos guiando outros cegos para o abismo onde se encontram hoje. Outra evidência é o Orkut. A comunidade intitulada Fabio Massari nesse site de relacionamentos, possui apenas 488 membros, em compensação a comunidade de título Cine – oficial têm 96.548 membros. Outro exemplo, a comunidade Lester Bangs americana têm 280 membros e a brasileira 23 membros, enquanto que a comunidade Fall Out Boy Brasil têm 84.264 membros. Os ouvintes de rock de hoje não estão preocupados em conhecer novas sonoridades, em explorar o passado e as muitas possibilidades que ficarão para trás. Ninguém se informa, ninguém liga para o mundo que nos cerca e para as implicações que um futuro incerto nos reserva. Rock também é cultura e através de muitas grandes bandas temos acesso a todo um universo de poetas, escritores, cineastas, pintores, escultores e artistas de todos os tipos dos quais fazem uma conexão intelectual com o rock. Essa geração de hoje não consegue se expressar, não consegue formular um pensamento ou ter complexidade no olhar. Portanto hoje nada podem dizer sobre os pagodeiros uma vez que se tornaram iguais a eles.



















































































































































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