sexta-feira, 26 de março de 2010

Artigo.

O Dedo de deus.


por Marlon Marques.







































Após pífia apresentação contra o também ruim Paulista de Jundiaí, Ronaldo parecia bastante sereno. É claro que, sua serenidade foi condicionada também pelo tom moderado dos repórteres em reverência ao fenômeno. Ele é um fio desencapado. Se ouvir algo que não goste, ele retruca com a mesma potência com que desfere um chute de peito de pé. Então isso lhe dá uma certa blindagem, blindagem essa não adquirida pelos também mau humorados Muricy Ramalho e Emerson Leão, sempre provocados mesmo com a fama. Nessa altura da vida de Ronaldo, criticas são constantes, assim como aplausos em jogadas geniais. Ele está no momento de oscilar, não de ser constante. Não fez nada contra o Paulista, mas pode decidir contra o São Paulo. Sua grande experiência o faz agüentar as pressões, disse o craque. Mas há pressões e pressões. Geralmente os jogadores explodem ainda em campo. Dodô, Luís Fabiano, Neto, Romário, Edmundo, entre outros, ainda no campo de jogo fizeram gestos obscenos para os torcedores. Ronaldo parece não se importar com isso enquanto ainda está envolvido na aura do jogo mesmo após ele. Enquanto dava a entrevista, ouvia com seu sentido aguçado, vaias, xingamentos e uns “gordo” aqui, “joga bola” ali, e até um “vagabundo” ele suportou. Pareceu não se abater. Porém no estacionamento da arena Barueri o deus se tornou homem. Ronaldo mostra o dedo médio em riste, num gesto que o nivela a qualquer torcedor comum em fúria com um gol perdido ou com um juiz equivocado. Ronaldo está certo ou está errado? Aos que o elevam aos céus e o colocam num panteão, ele está errado em fazer isso. Não é um gesto digno de Ronaldo. Para mim que o considero um homem normal, acho que ele acertou. Não sabemos o que o fez ter essa reação. Como ele é “quase” inatingível, um fotografo ou cinegrafista jamais conseguiria estar ao seu lado para registrar seus agressores. A imagem mostra apenas Ronaldo, já que o fotografo está do lado de cá, do lado dos mortais. O craque disse que não o fez para a torcida, mas sim para uma única pessoa que o ofendera moralmente, ofendera sua família e tocara em assuntos considerados intratáveis pelo jogador. Lembro-me que assim que chegou ao Corinthians, seus acessores soltaram uma nota dizendo que “façam qualquer pergunta a ele, menos sobre travestis e sobre a Copa do Mundo de 1998”. Esses são os calcanhares de Aquiles de Ronaldo. Porém essa foi a versão do craque, mas e a versão dos torcedores que estavam ali? O que foi dito por parte da imprensa que deifica Ronaldo, é que não foi a torcida do Corinthians que o hostilizou, mas sim um único torcedor (do Corinthians), que estava em meio há uns vinte mais ou menos. O mais certo seria perguntar aos outros dezenove ali presentes, para ver se a versão de Ronaldo de fato confere. Mas porque isso não foi feito. Segundo o sociólogo britânico Anthony Giddens, a modernidade foi marcada pela confiança nas instituições, nas coisas e nas ideias. Ou seja, “ninguém” entra num elevador e pensa que ele pode quebrar ou cair, apenas entra e pronto. Isso é confiança. Nesse caso também. Ronaldo é Ronaldo como dizem por aí, ele não será contestado, o que ele diz é incontestável. A confiança em Ronaldo é tamanha que logo se aceita sua versão, é a famosa "história dos vencedores" contra a "história dos vencidos" – esses nunca ouvidos. Porém, caso isso tenha de fato ocorrido, ponto para Ronaldo. Ofensas morais e familiares dividem opiniões (não a minha que sou contra) dentro de campo, pois há quem veja nisso algo de desestabilizar o adversário, mas fora de campo não, já é unânime. O jogo acabou, o jogador já ouviu criticas e ofensas dentro do tolerável, e em campo até se aceita, fora dele acabou, o jogador se torna homem, deixa as vestes de guerra no vestiário, se despe, exceto no caso de Ronaldo. Ronaldo antes de ser pessoa pública é ser humano, em suas veias corre sangue, não há circuitos eletrônicos. Mas os fieis não vêem Ronaldo como um homem, sim como um deus, acima de tudo e de todos, acima das criticas, da bizarrice, do ridículo e tornam tudo o que ele faz de feio em bonito e tudo o que ele faz de bonito em sobrenatural. Portanto considero que ele está certo, mas do ponto de vista cego do fanatismo é aceitável, pois coisas comuns só acontecem a pessoas comuns, e como consideram Ronaldo incomum, deus, tais coisas então valem, portanto não reclame Ronaldo, pois não se deve tratar com oregra aquilo que é exceção.




















































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