domingo, 20 de setembro de 2009

Ensaio.

Nelson Gonçalves & Adelino Moreira - Bibelot.



por Marlon Marques.



























Não sejas bonequinha quebradiça,

A luz mortiça de um belo lampião,

Não sejas bibelot de porcelana,

Que se esparrama quando cai ao chão,

Não queiras iludir teu sentimento,

O fingimento não te fica bem,

Repara que a maior beleza,

Está na singeleza que a pessoa tem.

Beijar-te no altar desejo,

Confesso que é meu sonho ardente,

Mas tenho a impressão que até num beijo,

Fazendo pose do beijo é diferente,

Não sejas tão sofisticada,

Enganas o teu coração,

Procura ser real e doce amada,

Para mim atingiras a perfeição.






























A voz firme, de timbre grave de Nelson Gonçalves, cai como uma luva para poesia e maestria de Adelino Moreira. A canção [poema] “Bibelot” é do disco Meu Perfil de 1960, sendo essa uma das muitas canções que Nelson gravou de Adelino. Essa é de fato uma parceria perfeita, ambos se combinavam tanto que até mesmo brigados, o resultado era surpreendente. Em 1964 Nelson gravou “Amigo, palavra fácil”, que Adelino compôs para reatar a amizade e a parceria dos dois, foi um sucesso. Acredito que tais canções não realçariam na voz de outro cantor, mesmo de grandes intérpretes como Cauby Peixoto, Silvio Caldas ou Francisco Alves, e nem a grande voz de Nelson Gonçalves daria a mesma química com outro poeta que não Adelino. Bibelot é uma mostra do talento desses dois grandes artistas da música brasileira. Uma moça muito linda mas também muito fresca, que se valoriza demais em gestos e poses exageradas. Sua beleza ressaltada pela luz mortiça do lampião, nos revela a fragilidade e a dissimulação da pequena princesa. O cortejador sabiamente envolve-a em sua conversa depurada pelo tempo e pelas conquistas, diz a ela sobre sua desaprovação de tal postura. Não sejas uma boneca quebradiça, não finjas uma fragilidade que não tem, pois a sinceridade torna uma mulher ainda mais bonita. As sinuosas curvas de seu corpo e a bela superfície cristalina de seu rosto escondem-se atrás de artifícios tão desnecessários. Não iludas teu sentimento, não subestimes minha inteligência e perspicácia, a vida fez-me ser um boêmio que aprendeu muitas coisas com o sofrimento. Ó moça de beleza tão divinal, o fingimento não lhe fica bem, estratagemas de sedução, armadilhas e maçãs não apanham velhas raposas, somente os ingênuos pássaros tão facilmente encantáveis com sua silhueta ao luar. A beleza maior não reside em palacetes luxuosos, mas habita casebres simples e humildes. A singeleza é uma virtude, e uma condição para verter a estética em perfeição absoluta, platônica. Ao som de flautas e bandolins, sonho contigo imaculada ao altar, e num beijo sem pose te amar. Sonho contigo onde posso alcançar-te, onde posso tocar-te, onde és real. Tenho ainda esperança em uma mudança, creio com a força que transforma as estações, que amadurece os frutos e desabrocha as vivas e perfumadas flores como tu. Seja mais simples, não estejas tão a frente de seu tempo, quero-te como és, não a idealizo como num filme de Fellini, a idealizo como faz os poetas, como as musas gregas, como nos sonhos dos amantes. Sabes que se engana dessa forma, pode iludir aos outros, mas não enganas a si mesma. E sabes também que a quero, sabes de minha loucura por ti, porém sei que um dia deleitar-me-ei de teu mel, farei morada em teu coração, e também sei que mesmo com tudo isso, falta pouca para atingires a perfeição.

















































Nelson Gonçalves - Bibelot.
















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