segunda-feira, 21 de setembro de 2009


Crítica.

Electronic - Raise The Pressure.


por Marlon Marques.











































Tem muita gente que diz que o Pet Shop Boys é som de fresco, mas quando toca "Domino Dancing" na festa de casamento da irmã, se molha todo de tanto dançar. Com o Electronic acontece igual. Só para parafrasear o título do filme de Alain Resnais, “Medos privados em lugares públicos". Nossa, o que meus amigos vão dizer caso saibam que eu ouço Electronic [se é que eles conhecem]. O que vão pensar os mais puritanos, mas e esse disco, que capa mais, mais, de menina! E daí? O que importa é que seja bom. E o disco é bom, e está cada vez mais raro encontrá-lo disponível. Li sobre esse disco há uns dez anos atrás na revista Showbizz, numa matéria sobre projetos paralelos. O paralelo aqui em questão – ou os paralelos – são Bernard Summer do New Order, e Johnny Marr ex-Smiths. Eles resolveram aliar talento e influência para criar um disco cheio de alegria, raios de sol e risos no canto da boca. Além é claro de bochechas vermelhas de vergonha. Chamaram para participar do disco outros dois expoentes da música eletrônica, Neil Tennant do Pet Shop Boys e Karl Bartos na época no Kraftwerk. O resultado é esse disco bonito, cheio de momentos maravilhosos e nostálgicos, que lembram o final do anos oitenta, a onda do synthpop e dos duos mágicos como Depeche Mode e Soft Cell. O álbum é 1991, momento em que o mundo passava por grandes transformações, tanto no plano socioeconômico, quanto no plano musical. Desintegração da União Soviética e o início do grunge, o capitalismo se instalando no mundo todo e o Nirvana levando contestação e interrogações aos lares da classe média burguesa americana [e depois mundial]. Enquanto tudo isso acontecia, do outro lado do atlântico, Summer e Marr compunham pérolas de inigualável quilate, claro que há quem conteste, mas o que seria do mundo se não fossem os contestadores. Raise The Pressure traz ótimas músicas dançantes mescladas a momentos mais contemplativos. Muitas atmosferas são induzidas a audição desse disco, não há destaques, pois o disco é todo muito coeso, e embora diferentes, todas são muito próximas. A introdução de “One Day” é um caso a parte, assim como as mudanças de ambientação de “Dark Angel”. Há os momentos também puramente desmunhecados, casos de “Until The End Of Time” e “Free Fall”. Mas isso não é um ponto negativo no disco como fora apontado por muitos detratores, afinal a eletrônica é o ritmo oficial dos gays – dos bailes paulistanos aos abalos de São Francisco. O mais interessante do Electronic é o fato de que tanto Summer e Marr, quanto seus convidados ilustres [exceto Tennant], poderem fazer algo diferente do de seus trabalhos de consagração. “Visit Me” por exemplo, em nada se parece com Smiths, ou com New Order, ao até com Kraftwerk. “For You” experimenta a alegria do grupo Mônaco de Peter Hook [também do New Order], já em “Forbidden City”, o toque especial de Johnny Marr a deixa não tão distante do Smiths [mesmo com a afirmação anterior de o grupo não lembrar as bandas e ex-bandas dos integrantes]. Acredito que vale muito a pena ouvir esse disco, mas é necessário despir-se de qualquer preconceito ou pré-julgamento, a começar pela capa, e deixar apenas que o bom senso seja o guia dessa audição. Se você for realmente alguém de sensibilidade apurada, e principalmente se não sofrer de síndrome do touro branco[1], irá gostar desse disco, pela beleza, pela simplicidade e por lhe trazer momentos de prazer tão corriqueiros, quanto um cochilo despretensioso depois do almoço. Deleite-se.



[1] O touro branco era comumente associado como símbolo da virilidade entre os gregos antigos.





























Electronic - Raise The Pressure [Warner Bros/ WEA, 1996].

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