quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Artigo.


De Mallu Magalhães á Maria Gadú: Isso aqui também é um pouquinho de Brasil.



por Marlon Marques & Ladislau Smack.




































O Brasil está bem mal das pernas. O país do futuro parece-me sem inspiração em revelar novos talentos femininos na música – femininos nem tanto. É quase regra na “MPB”, mulher ser bi ou homossexual – claro que não há nenhum problema nisso – e também ser xerox de alguém. Tem as que imitam a Ivete, tem as que imitam a Ana Carolina, tem as que imitam a Cássia Eller e já vi até quem imite a Maria Rita. Se você pensar paradoxalmente, o que há de errado nisso? Na verdade eu penso assim: “se todos apenas se limitarem a imitar, nunca teremos coisas novas para ouvir, pois no final das contas, tudo será a mesma coisa”. Já me questionaram sobre as intérpretes, eu então retruquei que as grandes intérpretes do país criam versões, veja Elis Regina cantando Chico Buarque ou Gal catando Caetano, as canções são diferentes das que eles gravaram. O momento atual que vivemos na música espelha o momento político que vivemos há algum tempo, mesmice e promessas falsas, vide Senado. Ouvimos por essas semanas os discos de Mallu Magalhães e Maria Gadú, coincidentemente ambos homônimos. O resultado dessa audição não é dos melhores. É como na arte contemporânea, o que mais vale não é a qualidade, mas sim o conceito. É uma arte conceitual, culpa um pouco de Duchamp e Picasso [gênios] – porém, basta fazer qualquer rabisco num papel em branco e inventar um conceito, e pronto, é arte. Na música é assim também, tudo é aclamado como bom sem o menor critério, não se observa o quê e como está sendo cantado, se tem sentido, inovação. Basta ter um rostinho bonito, um jeito exótico e uma personalidade forte para se tornar uma celebridade. Porém como nos extremos de uma linha, nem a muita inovação, nem a muita mesmice. E nesse caso em questão, Mallu Magalhães representa a inovação exagerada e Maria Gadú a mesmice. Virou um clichê também dizer que a Mallu não presta, não é bem assim. Mallu Magalhães é um pouco infantil sim, é meio menina Maysa do SBT, criança afetada com pose de adulto blasé. Isso é horrível. O infantilismo de Mallu é de doer, mas no plano musical não é tão ruim assim. Seu disco até que tem uns arranjos interessantes, paisagens pastoris e calmaria de cidade do interior. Sua voz é meiga, lembra até Leigh Bingham Nash do Sixpence None The Richer e as meninas do Luscious Jackson. Mallu se sai muito bem quando faz o simples, violão, arranjo e voz. Porém quando tenta ser a nova sensação do folk cheia de personalidade, aí é péssimo. Exemplo de canções em que se sai bem, “J1” e “Swalk”. E se sai bem justamente pela simplicidade, como no verso da canção Bibelot de Adelino Moreira, “e saiba que a maior beleza, está na singeleza que a pessoa tem”. Exatamente, não adianta complicar para ficar com cara nova. Não adianta tentar inovar só para mostrar que faz um trabalho............. “idiossincrático”. “Angelina, Angelina” é terrível, é de um mau gosto extremo, e “Vanguart”, um desastre. Nessa música ela mostra o quanto é melhor cantando em inglês, pois sua voz em português não combina, definitivamente. A única música do disco que aposta e acerta em uma sonoridade diferente é “Her Day Will Come”, umas quebradas de ritmo, arranjo cheio de teclados e condução contagiante, para no final Mallu balbuciar vagarosamente sobre uma base seca de violão. Outro ponto condenável é a sua pretensão e seu ar superior. Como uma menininha dessas se coloca ao lado de imortais como Bob Dylan, Van Morrison e Nick Drake? Que petulância. É importante frisar que ser ousado não é ser ridículo, e que não é porque você é o destaque do seu time no campinho do bairro que você vai se considerar craque ao lado de Pelé e Maradona, menos. O disco de Maria Gadú se destaca mais pelos ricos instrumentais, porque de poesia e voz, ficou devendo. A vi ao vivo no programa Altas Horas do Serginho Groisman, o que vi foi uma menina auto-confiante, cheia de si, com uma voz rouca e forçada. Dava pra ver que ele forçava um jeito, que buscava emular nomes já consagrados do estilo. Faltou digamos, personalidade. O timbre de voz de Gadú está mais para Ana Carolina e Zélia Duncan do que para Marisa Monte, portanto, cantar um samba como “Alta Particular”, é forçado. A letra é boa e a música também, mas ela cantando não deu liga. “Dona Cila” e “Shimbalaiê” é pastiche. “Há mas para uma menina de 22 anos está muito bom”, mas veja, esse candombleísmo enche o saco, começou com a grande Clara Nunes e com a Bethânia, ai o vírus pegou na Vanessa da Mata, na Maria Rita, e até no começo da carreira da Marisa Monte. Essas fórmulas já foram usadas por outras cantoras, isso é mero pastiche, e não costumo dar valor a quem se limita a copiar. O que salva o disco sãos mesmo os arranjos, músicos competentes, e ela também não é má cantora, não é isso, a questão é que não veja autenticidade em seu cantar, ela poderia investir em um outro tipo de mpb. “Linda Rosa” é um caminho. Talvez com um pouco menos de trejeito. Talvez por aí se saísse melhor. Agora há dois momentos nesse disco que são absolutamente terríveis. Do mesmo jeito de Mallu Magalhães, Maria Gadú tem seu momento pretensão. Só um parêntese, o jovem no Brasil sempre foi chamado de alienado, então com a intenção de reverter essa imagem, os jovens começaram a agir, no ativismo político, em Ong´s, na militância, etc, então muitos dos jovens de hoje, se preocupam em parecerem antenados, inteligentes e cultos. Mallu tem 17 anos e Gadú 22 anos, são típicas meninas pequeno-burguesas querendo reverter a imagem que as meninas de sua classe possuem. Talvez isso explique a pretensão. Voltando a Maria Gadú, ela gravou “Ne Me Quitte Pas”, ficou estranho. Tudo bem, sabemos que você gosta e conhece música francesa, agora fazer versão de “Baba” da Kelly Kei, já é demais. Ela quis dar uma renovada na música e provar para todos que qualquer música sendo bem cantada é boa. Não. Ambas as versões, a original e essa desse disco são péssimas, Maria Gadú faz vocalizações de cantora gospel para impressionar, mas não, não dá liga. O que é ruim é ruim de qualquer forma. Claro que não vamos entrar em questões estéticas, mas cabe o lembrete. Uma lição aprendemos de tudo isso, seja original. Não tente ser o que não é, não inove demais, e também não seja os outros, seja você. Nem ao céu nem ao inferno, finque os pés na terra, não opte por extremos, tente conservar sua personalidade sem exagerar demais nisso, pois se, uma corda de violão for muito esticada ela se quebra, mas se for frouxa demais, não dá som, então, tente achar o ponto certo, é difícil, mais dá.


















































Mallu Magalhães - Mallu Magalhães [Microservice, 2008].

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Maria Gadú - Maria Gadú [Som Livre, 2009].

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