domingo, 5 de julho de 2009

Crítica.

Rolling Stones - Their Satanic Majesties Request.


por Marlon Marques.

















“Their Satanic Majesties Request” é sem dúvida um grande álbum, disso acho que ninguém desacredita. Talvez o grande erro dos Stones foi a competição com os Beatles – aqui clara em relação ao Magical Mystery Tour e depois em Let It Bleed em relação a Let It Be. Uma competição nunca vencida pelos Stones, mas que nos rendeu grandes álbuns, como esse. Fiz aqui a comparação com Magical Mystery em detrimento à Sgt. Peppers, pois competição com esse álbum somente Pet Sounds mesmo. 1967 é o ano da psicodelia, do verão do amor, da estação das flores, do sonho, e se os Stones ajudaram a matar o sonho [ver festival de Altamont], porque é que não participariam dele no seu momento mais prodigioso? E foi o que os Stones fizeram, uma obra psicodélica, não na mesma viagem de ácido dos Beatles, Beach Boys e Byrds, mas numa onda mais bucólica como a dos Kinks, Grateful Dead e outros hippies chapados. O disco apesar dessa distinção é extremamente viajante, e mesmo não se comparando com o magistral Sgt. Peppers, é muito bem arranjado, sofisticado e bem longe do blues pesado característico das pedras rolantes. O disco é bastante alegre, à começar pela bela e mágica primeira faixa “Sing This All Together”, um coro diz: “por que não cantamos esta canção todos juntos?”, uma conclamação a união e a paz [ainda mais no contexto de Guerra do Vietnã]. O arranjo traz metais e solos de guitarra invertidos [experimentos vistos desde Revolver], cordas e um ar de mundo melhor é possível, onde a fraternidade e o respeito são os lemas supremos dos homens, batuques tribais e um belo arranjo de piano fazem o pano de fundo. “Citadel” tem um arranjo torto de guitarras e uma levada no estilo feliz dos Byrds, e um belo conjunto de cravo e mellotron de Nicky Hopkins, para nos dizer que na cidadela é mais seguro viver, longe da histeria dos grandes centros como Londres, Manchester ou Nova York. “In Another Land” ouvesse o vento bater em nosso rosto enquanto caminhamos rumo a um outro lugar, cantando estrada a fora como se a vida não fosse agora, mas num futuro reservado em outro lugar, Jagger é aqui como um menestrel e a banda lhe serve de apoio a um jogral caleidoscópico. “2.000 Man” é uma canção bastante irônica, fala sobre o que o homem contemporâneo fez a terra e o que o homem do ano 2000 fará. Jagger canta irônico: “Oh, papai, orgulho-me de teu planeta”, cheio de guerras, egoísmo e indústrias, onde o capitalismo invade os lares ditando um modo de vida destruidor que não precisamos. A canção é bem ao estilo The Mamas & The Papas e cai muito bem lendo On The Road de Kerouac, Keith Richard se sobressai conduzindo seu violão elétrico e solando sua guitarra, e ao fundo ouvê-se um orgão lindo. A quinta faixa é especial, é uma versão diferente de “Sing This All Together”, que conta com a participação dos Beatles, é mais longa, psicodélica e altamente chapada de lisergia, convida-nos a passear por um sonho colorido e distorcido. “She´s A Rainbow” é a Lucy dos Stones – não se sabe se é Pamela Des Barres ou Marianne Faithfull – porém a canção é belissíma, um arranjo primoroso. Cordas e um piano dão a tônica, descortinando um concerto por pastagens verdes e plantações de cogumelos gigantes e malucos, onde Jagger adjetiva sua musa dizendo que suas cores se espalham por todos os lugares, não como um arco-íris, mas como um caleidoscópio [mas quem é a menina de olhos de caleidoscópio mesmo?]. “The Latern” lembra os Beatles em Abbey Road, virtuosismo e lirísmo. A lanterna não chega a se acender, apenas ameaça, a música nunca chega a acontecer de verdade, apenas brinca com nossos ouvidos num arranjo minimalista, disparando acordes trêmulos e tortos que ativam em nossos cerébros viagens induzidas, mas cheias de emoção e esperança. Sem contar que nessa música Jagger se parece com Billy Corgan dos Pumpkins, ou é ao contrário? [irônico]. “Gomper” é meio oriental, meio indiana. É tocada em tons baixos, traz Brian Jones tocando xilofone elétrico e Richards emulando Harrison em suas incursões pela terra de Ravi Shankar. Aos três minutos a música começa a crescer e a psicodelia a se mostrar, com batuques, sopros e guitarras-cítaras nos iniciando nos mistérios da psique humana e do despertar de uma nova consciência, aqui e em uma outra terra. “2.000 Light Years From Home” é uma utopia interestelar, influência dos movimentos New Age e do ocultismo em voga nos anos 60. O orgão dessa canção é quase irmão do órgão de Light My Fire dos Doors, num arranjo com direito a teremin e levadas orientais [vide prelúdio em Gomper]. Talvez 2.000 Years Light From Home indique o fim da esperança nesse mundo, é só lembrarmos que cinco anos antes [1962] houve a crise dos mísseis em Cuba. O mundo quase acabou pela iminência de uma guerra nuclear, mesmo assim o homem não aprendeu e continuou em guerra, continuou a se ver como diferente [luta pelos direitos cívis], então talvez Jagger enxerguasse que mesmo sendo triste, a saída fosse irmos para longe daqui, em Aldebarã talvez – possibilidade acenada por cientistas do calibre de Freeman Dyson e Michio Kaku. “On With The Show” é bem apropriada para encerrar o disco mesmo. É o fim do dia, o trabalho aliena o homem ao invés de glorificá-lo, afinal, para fugir um pouco dessa vida estressante, nada melhor que cervejas, mulheres e música[sic]. É muito machista sim, mas é o que acontece, o moralismo do american way of life é derrubado aqui: “por favor, encham outro copo. É o momento de assistir o cabaré, sua esposa nunca saberá que você não está realmente trabalhando até tarde”. Órgãos, pandeirolas, guitarras elétricas servem de colchão para deitar a tristeza, afinal “leve os seus problemas para longe daqui”, canta Jagger, não há razão para ser triste, o mundo vai se acabar, assim como a noite, portanto aproveite, pode ser tarde. Their Satanic Majesties Request poderia ter tido melhores resultados, mas foi lançado num ano muito cheio de grandiosidades, por isso ficou totalmente ofuscado. Os Stones, por voltarem no ano seguinte ao seu blues habitual em Beggar´s Banquet, mostram que seu disco psicodélico foi apenas para mostrar ao mundo que poderiam também compor uma obra a altura de seus pares na época. Provaram? Não sei, o disco é pouco falado, pouco comentado, e talvez até pouco ouvido, mas as canções que compõe esse curto álbum são de uma preciosidade única, como o lago de lírios de Gomper, ou como o vestido azul da garota arco-íris, ou como as incertezas de um futuro obscuro pintado com as cores da esperança convalencente que pereceu com Bowie e seus asseclas glans. O sonho acabou, a competição também, os Stones saíram ilesos, os Beatles acabaram e Brian Wilson enlouqueceu, mas Their Satanic é com certeza um dos maiores coadjuvantes da história do rock, um álbum que só não foi grande como deveria porque foi lançado por vaidade na época errada, mas quem sabe ainda dê tempo, talvez 67 ainda não tenha acabado, pergunte a Jim Morrison.






































Rolling Stones - Their Satanic Majesties Request [Abkco, 2002].


download.






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Um comentário:

  1. jokerman8:05 PM

    só não concordo quando disse que os stones nunca venceram uma competição com os beatles, let it bleed por exemplo é superior ao chato let it bleed, beggars banquet é melhor do que album branco , mas tudo bem gosto é gosto.

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