domingo, 5 de julho de 2009

Artigo.

Ser ou não ser, eis a questão? – ou uma verdade paradoxal.

por Marlon Marques.


























Não sei ao certo se Max Lopez chamou Elicarlos de “macaco”. O que sei é que os antecedentes dos argentinos não são favoráveis. Basta apenas se lembrar do jogador Desábato. No jogo São Paulo e Quilmes na Libertadores de 2005, o jogador argentino também foi acusado de racismo pelo brasileiro e negro Grafite. Elicarlos também é negro assim como Grafite, e Max Lopez também é argentino, assim como Desábato, será isso mera e infeliz coindicência? Em 1963 no jogo Santos e Boca Juniors na Argentina, a torcida do time portenho fez gestos e ruídos de primatas contra Pelé e outros jogadores santistas, mas uma vez a mesma equação, Pelé negro e o Boca Juniors um time argentino. A Argentina sempre teve ligações muito fortes com a Europa, sendo Buenos Aires conhecida como a Paris latino-americana. Os argentinos são racistas sim, e é fato que houve um programa de pureza étnica nesse país, para garantir que não houvessem negros e que esses não atrapalhassem o desenvolvimento do país [corrente de pensamento difundida à partir da Europa através das idéias eugenistas no século XIX]. Essas idéias eram defendidas por um certo general Sarmiento. Porém não podemos afirmar que todos os argentinos são racistas, mas é certo dizer que muitos o são, e no futebol essas questões vêem a tona com alguma frequência. Na realidade o futebol nos mostra o que é evidente, nas arquibancadas ou até mesmo em campo, nos mostramos tal qual somos de verdade, ao passo que tais atitudes no âmbito da vida social torna-se inviável. Tome como exemplos o exercício de liberdade, rebeldia e autogestão da “Democracia Corinthiana” no fim, mas ainda na ditadura, ou a seleção italiana de futebol que usou camisas negras na final da copa de 1938 – alusão aos camisas negras de Mussolini. O futebol espelha a sociedade, e a sociedade espelha o futebol. Na Espanha, Roberto Carlos, brasileiro e mestiço sofreu agressões de diversas torcidas desse país, assim como o camaronês Samuel Eto´o, que chegou a abandornar uma partida contra o Real Zaragosa em 2006. O futebol é mesmo engraçado, pois consegue inverter inclusive a lógica dos verbos ser e estar. Somos ou estamos racistas? No futebol, as duas coisas. Uma parte da torcida do Grêmio demostrou claramente isso no último dia 2 de julho de 2009, na segunda partida da semi-final da Libertadores entre o Grêmio e Cruzeiro. O jogador Elicarlos começou a partida no banco de reservas, porém quando entrou, essa parte da torcida gremista começou a insultá-lo imitando ruídos de um macaco. Porém a mesma torcida aplaudiu quando o jogador gremista Perea entrou em campo depois de longo tempo parado por conta de uma lesão. Ambos são negros, porém a mesma torcida que chamou um negro de macaco, aplaudiu um outro negro – o que isso realmente significa? Somos ou apenas ficamos racistas dependendo do contexto? Ou somos racistas por conveniência, quando é preciso um pai ser bravo com um filho ele é, mesmo amando o filho, então, esses torcedores do Grêmio não são racistas, apenas foram racistas naquela ocasião, afinal, eles até toleram Perea, Makelele e o Joílson, todos negros [irônico]. É contaditório, pois parece que na verdade os negros não prestam, porém quando “estão” a nosso favor torna-se tolerável [não significa que gostamos], porém quando não “estão” [a nosso favor] aí sim, podemos chamá-los de macacos, pretos, inferiores, ou qualquer outra denominação tão abominável quanto mulato ou escurinho. O meu veredito final é que nós somos racistas, pois o brasileiro é bastante racista sim, e os sulistas em especial [bom que fique claro não é uma generalização]. Portanto não é surpresa nenhuma a atitude de Max Lopez, assim como a dessa parcela da torcida do Grêmio, pois todos sabemos que os sulistas sentem-se muito mais próximos dos argentinos do que do resto do Brasil. E se os estados do sul [no futebol também] imitam a garra, a técnica, a competitividade e o churrasco argentinos, porque não haveriam de copiar também o racismo? Mas o mas irônico de tudo isso é o fato de que o belo hino do Grêmio foi composto por Lupicínio Rodrigues, homem negro e talentoso nascido em Porto Alegre, mas não se preocupe, como esse é dos nossos, isso nós toleramos.







































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