quarta-feira, 24 de junho de 2009

Crítica.

Portishead - Dummy.


por Marlon Marques.


























Dummy é o álbum de estréia do Portishead, lançado em 1994, e também o marco zero do Trip Hop. Parece até um clichê o fato de as bandas não assumirem os rótulos criados, mas com o Portishead isso realmente é verídico, eles nunca se colocaram como parte de uma cena com Tricky, Massive Attack e Bjork – mesmo embora próximos desses dois primeiros. Poucos discos de estréia são e foram tão aclamados como Dummy, as revistas britânicas Mixmag, The Face e Melody Maker o elegeram disco do ano, e no ano seguinte [1995], ganhou o cobiçado Mercury Music Prize. Porém tudo isso é plenamente justificado quando se ouve o disco. Logo de início ouvimos as batidas secas e os scratches de “Mysterons”, o som é diferente de qualquer outra coisa feita naquele momento crítico da música mundial. E não é exagero, pois embora o fantástico Herbie Hancock já tenha mesclado batidas de rap com jazz, só o Portishead conseguiu fundir rap, jazz, eletrônica [embora o rap seja de certa forma], dub e trilhas sonoras, numa musicalidade única e surpreendente. A cantora em questão, uma certa Beth Gibbons, uma mistura de Nico com Bjork, esbanja seu talento derramando suas mágoas sobre letras tristes e confessionais. “Sour Times” é melancólicamente linda, e contundentemente nostálgica: “porque tudo o que me sobrou são as recordações de ontem, Oh, essas épocas azedas”. “Strangers” tem uma batida forte, marcada, é densa como uma noite de fog londrino. É uma canção entrecortada por efeitos sonoros quase que tirados de filmes, é aqui que os vocais de Gibbons começam a ter mais destaque, emoção em profusão. Gibbons demonstra em “It Could Be Sweet” o quanto é versátil, Geoff Barrow a definiu como um camaleão vocal, e nessa faixa isso fica muito claro. Aqui Gibbons é cortantemente suave e elegantemente sútil, sob uma base minimalista, mezzo bossa nova/acid jazz, cool. As batidas cortantes e fortes de Strangers, voltam em “Wandering Star”, o recurso dos samples enriquece a música com intervenções contextuais, Beth mantém a suavidade, enquanto ao fundo descortina-se um acompanhamento levemente orquestrado. Essa orquestração aparece verdadeiramente em “It´s A Fire”, mesmo que em alguns momentos, pois essa canção é toda dominada por uma atmosfera fantasmagórica criada por um órgão de catedral – em alguns momentos chega a lembrar algo de New Age [sic]. “Numb” é tensa e sinistra, sua letra é cheia de figurações complexas. Os scratches dão um show a parte em Numb, o clima de tensão é provocado por cacos de efeitos disparados entre as batidas, no fundo pequenos alarmes e um jogo de cordas nos inquietam de uma forma quase paranóica. Se não há uma explicação semântica definitiva para o Trip Hop, há uma explicação sonora, ela chama-se “Roads”. Linda, triste, dolorida, tudo nessa canção é perfeito, a interpretação altamente emocional de Beth Gibbons, os arranjos, a execução da música, a letra, enfim, isso vai além de um rótulo. O mórbido começo com ondulações de guitarra preparam uma suíte esfumaçada, como um bar no fim da noite onde se vê um homem solitário em sua dor tomar sua última taça de mágoa. A tão citada orquestra enfim acompanha a canção inteira, enchendo de beleza ainda mais a perfeita canção. “Não tenho ninguém ao meu lado, e certamente isso não está certo”, é essa dor da solidão que a música retrata tão bem, que é impossível não se emocionar na solidão de um dia frio e escuro. “Pedestal” é sem dúvida a mais experimental e jazzística do disco, enquanto que “Biscuit” é emocionalmente sombria, cheia de iluminações e efeitos de distorção de voz. Dummy de fato é inteiro muito bom, porém há sem dúvida dois grandes momentos claros nesse disco, um é Roads e o outro é “Glory Box”. Uma linda canção que tornou-se o maior sucesso comercial do Portishead, justamente por sua beleza incomum e acessível. O crítico Max Reinhardt definiu-a como lânguida e sedutora, o que de fato é, uma canção envolvente e comovente. A letra brinca com a natureza dos genêros, homens durões, insensíveis e nada românticos, e mulheres sensíveis, românticas e machucadas pelo amor. Gibbons deixa claro que quer ser apenas uma mulher, tal qual as mulheres são, porém apela para o homem dizendo: “apenas dê uma olhadinha de fora quando você puder – mostre um pouco de ternura”. Esse homem a fez sofrer, ela se cansou de brincar de tiro ao alvo com seu próprio coração – e como é típico das mulheres – decide deixar para outras garotas esse jogo de auto-flagelação. “Me dê uma razão para amar você?”, amolecida pergunta após um suposto apelo do homem, que a vê indo embora após tanta dor e mágoa. As cordas dão um tom de sofisticação a canção, que ainda conta com um belo solo de guitarra de Adrian Utley, além de suas nuanças e marcações bluesisticas durante toda a música. Beth Gibbons mais uma vez interpreta com um sofrimento exemplar, uma emoção sem limites, faz-nos viver essa dor de forma muito intensa e real, e acho que intensidade é o adjetivo mais apropriado para descrever esse belo álbum e sua virtuosa vocalista.


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2 comentários:

  1. Mais algumas Criticas por Marlon Marques, Mostrando aii sua sabedoria, culta, onde a mente de um Homem pode chegar, Fiquei muito sorpreso pelas Criticas construtivas, e fiquei mais inpresionado pela liguagem musicais e termos tecnicos que usa para falar sobre o som das banda como exemplo:Musicas potente,aveludada,consistenti,fantasmagórico,secas e constante, e a palavra que eu gostei mais foi minimalista.
    o minimalismo que comoçou nos anos 60, que é uma musica circular e seu som, que tem a vezes harmonia outra melodia, e mais legal que não tem nada a ver com o capitalismo, rsrs deixa para falar sobre minimalismo outro dia kkkk.Fica ai minha primeira postagem, esta muito bom o blog, mais isso são coisas que ja acontecia a muito tempo atraz, que nois conhecia Som,musicas,bandas e historias por Marlon Marques e assim continua a tragetoria ate a proxima critica e eu como comunicologo,Produto e Dj, estou indo escutar Portishead e as outras banda aii que esta no blog
    Att..
    ate mais

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  2. Mais algumas Criticas por Marlon Marques, Mostrando sua sabedoria culta, onde a mente de um Homem pode chegar, Fiquei muito surpreso pelas Criticas construtivas, e fiquei mais empresionado pela linguagem musicais e termos tecnicos que usa para falar sobre o som das bandas, como exemplos:Musicas potente,aveludada,consistenti,fantasmagórico,secas e constante, e a palavra que eu gostei mais foi minimalista.
    o minimalismo que comoçou nos anos 60, que é uma musica circular e seu som, que tem a vezes harmonia outra melodia, e mais legal que não tem nada a ver com o capitalismo, rsrs deixa para falar sobre minimalismo outro dia kkkk.Fica ai minha primeira postagem, muito bom o blog, mais isso são coisas que ja acontecia a muito tempo atraz, que nois conhecia musicas,bandas e historias por Marlon Marques e assim continua a tragetoria, ate a proxima critica e eu como comunicologo,Produto e Dj, estou indo escutar Portishead e as outras banda ai que esta no blog
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