quarta-feira, 15 de abril de 2009

Mr. Bungle - California.

por Marlon Marques & Guy Anderson.






























Esse terceiro e último disco do Mr. Bungle é sem dúvida o trabalho mais acessível da banda. “California” lançado em 1999 pela mesma Warner, é o mais cantado, mais próximo do estilo convencional de fazer música e também a melhor introdução ao mundo “misterbungleniano”[sic]. Muitos dizem ser o “pior” disco da banda, discordo veementemente, outros enxergam uma ruptura, também discordo, o que vejo é uma proposta diferente, o disco continua experimental e de alto nível, canções belíssimas e com instrumental acima da média, um disco também acima da média, mas subestimado, assim como o “King For A Day” do Faith No More. O disco é bastante alegre e descontraído, há passagens pop e outras ultra experimentais, porém no mesmo nível dos outros trabalhos, sempre primando pelos intrumentais elaborados e realmente Mike Patton se distancia dos demais vocalistas pela sua incrível performance nesse álbum. California representa a nosso ver a confirmação de que o Mr. Bungle é uma grande banda, isso porque sendo esse o último álbum, o vemos como cumprimento de contrato, as músicas são mais curtas em duração e como já dito antes mais acessíveis, tudo isso indica que se com essas condições a banda produz um material de tanta qualidade, imagine em outra situação. O disco é bastante heterogêneo, muito eclético e culturalmente variado, são pedaços de vários tipos de música colados um no outro, como irmãos siameses. A trupe de Eureka liderada por Patton abre a caixa de Pandora musical, dela não saem monstros, saem sonhos, delírios e estranhezas, porém estranhezas mais familiares, mais próximas da nossa loucura, algo que mais pessoas podem entender e apreciar. “Sweet Charity”, é um sonho, é uma bela e sofisticada peça quase que saída de um musical de Minelli, nela há um pouco de bossa nova, música hawaiana e swing, mas muito da boa canção americana da broadway, Patton faz as vezes de crooner numa linda interpretação, cheia de luz e emoção. A mesma emoção está contida em “Pink Cigarette”, outra linda canção, emula a fórmula das “chansons francesas”, muito requinte nos arranjos e um ar de sofisticação. Se fosse uma bebida seria um dry martini, há sussurros e um canto suave, sugerido apenas, sensual, mais uma vez há ecos de Serge Gainsbourg e Henri Mancini, esse ultimo influência visível de Mike Patton. “Vanity Fair”, não a revista, mais a música, é um tributo a Four Tops e Temptations, é um soul emocional, com direito a efeitos e orgão gospel, já “Golem II: The Bionic Vapour” é o que podemos chamar de infantokraftwerk [sic], pois é uma mistura de temas de videogame, vozes sampleadas, batidas eletrônicas e efeitos Kraftwerk, é divertida e engraçada. “He Holy Filament” e “Goodbye Sober Day”, são músicas mais progressivas e compassadas, temas arrastados e lentos [a primeira], e a segunda um verdadeiro vulcão, começa lenta para no final explodir. Pelos dois minutos de música, Patton entoa um canto estranho, uma espécie de lamento, um mantra repetido por uma multidão, que aparece no final da música também, depois a música trafega por terrenos arenosos, pesos, gritos, insanidade são elevados a décima potência, até cair numa espécie de salsa com pianos e efeitos. “Retrovertigo” é a balada do disco, tem até um refrão, pois é um refrão, cantável e tudo. Contudo, depois de Sweet Charity, as grandes canções do disco são “None Of Them Knew They Were Robots”, “The Air-Conditioned” e “Ars Moriendi”. A primeira tem uma introdução sombria, uma marcha cheia de teclados carregados e guitarras pesadas, lembra os temas mal assombrados de Misfits e Dead Kennedys [sugestão], é uma música cheia de nuances de jazz, de contra variações, Patton dá um show nas vocalizações. Os metais roubam a cena, junto com efeitos de batidas, os pling plongs espalhados aleatoriamente pela música, atmosferas, ecos, sombras, esse pesadelo sonoro só encontra equivalente nos sonhos musicais do Olivia Tremor Control. A segunda começa como se uma serenata estivesse no final, mas aqui há castanholas e chocalhos, logo em seguida gritinhos de praia na onda dos Beach Boys, modulações de guitarra e um backing vocal pairando no ar. A música tem um tom de leve desespero, Patton interpreta diversas vozes, algumas finas, outras calmas, outras apenas Patton mesmo, todas com uma competencia magistral, os sons lembram algo como um lounge-soul-surf, com efeitos de cinema e muita, muita emoção. A terceira é uma incursão na música árabe logo na introdução, porém a banda mistura muitas influências, transformando essa música num verdadeiro caldeirão cultural. São misturados elementos árabes, com acordeon e eletrônica dura, reta, a dizer tecno, há também muita guitarra, há fanfarra européia, vocalizações de Patton e uma técnica impressionante dos músicos, temas sofisticadas, mudanças repentinas de um estado para o outro, pulando ora da fanfarra alegre, para vocais russos, danças orientais e peso. California é um disco curto, tem apenas dez faixas, porém todas nos oferecem emoções diferentes e garantia de bom gosto, diversidade e técnica extraordinária, são músicos de uma competência indiscutível, e um vocalista camaleão, o homem das mil vozes, o bardo, aquele que carrega em si o dom da diversidade, que é a grande qualidade desse álbum.



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Um comentário:

  1. joao marcelo5:35 PM

    Ars Moriendi seria judáica e naum arabe, apesar de serem duas etnias com tronco linguísticos semelhantes

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