quarta-feira, 15 de abril de 2009

Ensaio.

As vezes falar demais é desnecessário.


por Marlon Marques & Bartira Suansson1.
























2.























Dizem os sábios que se tivessemos que falar mais teriamos duas bocas ao invés de uma, sendo dessa forma, seriamos tão bonitos quanto qualquer figura de Picasso. Em todos os lugares ouvimos vozes, “blá, blá, blá”, ruídos, sons, e toda sorte de poluição sonora, algumas são inevitáveis, porém outras dispensáveis. A voz humana é o nosso instrumento de comunição com o mundo, porém há uma ingrata variável nessa equação, a voz pode ser bela como de uma soprano, ou totalmente enjoativa, desagradável, irritável aos ouvidos. A voz é o imperativo da ordem, é a alegoria pelo qual Deus é representado, é a imaginação através das ondas do rádio e foi pela voz que Adão nominou todos os animais. A sociedade industrial é o ponto de partida das “sinfonias metropolitanas”, o rock industrial surge para emular esses sons, que o modo da sentença de Brian Eno, integrou-se a nossa paisagem e parece dela parte indissoluvel. Entretanto é necessário dotar a voz de sentido, e música nada mais é do que harmonizar sons e deixá-los agradáveis aos nossos ouvidos, mas nem todos são Bach ou Mozart, e mesmo Burt Bacharach e Chico Buarque, porém nem sempre se há bom senso, e na contemporâneidade onde tudo é permitido [vide arte], as pessoas se sentem no direito de considerar nossos ouvidos lixeira. Os transportes urbanos são locais de coletividade involuntária, nesses espaços se convive nem sempre harmoniozamente com o diferente, mas massas não são dotadas de bom senso e respeito, ligam seus aparelhos sonoras com auto-falantes externos, fazendo com que todos ouçam músicas que nem sempre agradam a todos, além das conversas. Conversa nem sempre é sinônimo de conteúdo, mas o fato é que não nos damos conta da quantidade de decibéis a que somos expostos todos os dias, portanto, se não há conteúdo, é melhor calar, precisamos aprender a apreciar o silêncio [enjoy the silence], apurar mais os outros sentidos, ver e ouvir mais, e falar menos. Quando você fala mais, corre mais o risco de falar mais coisas certas e mais coisas erradas, e palavras bonitas o vento leva, as palavras erradas ficam, Rubens Ricupero e Paulo Maluf sabem bem disso. Jesus disse: “não deis aos cães as coisas santas e nem deiteis aos porcos as vossas pérolas”, isso significa que não devemos sair por aí falando aos borbotões e a todas as pessoas, nem todos estão prontos para ouvir e nem todos sabem o que fazer com aquilo. Falar as vezes é irritante, o som das vozes e o emaranhado delas formam um som horrível, ininteligível, um zunir nos ouvidos. Certos comentários são irrelevantes, certas conversas vazias, certas vozes horríveis e muitas músicas ruins, outras obscenas, criam um ambiente ruim. Cristãos falam alto, crianças gritam e fazem birra, velhos reclamam, funkeiros falam obscenidades, torcedores palavrões, namorados irritantes declarações de [falso] amor, é um mosaico insuportável de sons, e o que é pior, sem ordenação e sentido. Me cansei de falar, me cansei da minha própria voz, o vazio das pessoas e preenchido por coisas fúteis, só falam de sexo, futebol, consumo, big brother, baladas, crepúsculo, chega! Vamos fazer silêncio, fiquemos por alguns segundos sem proferir uma sílaba se quer, vejamos os benefícios do calar, do ver e ficar quieto, do ouvir e não responder, de nos limitarmos a mera educação de retribuir um olá, ou um bom dia, deixemos de lado nossa petulância e sapiencial de opinar sobre tudo. Falamos demais, desperdiçamos palavras a todo instante, enchemos uns aos outros co nossos problemas, idéias, perguntas, choro, desabafo, isso as vezes é desnecessário, temos que falar menos, dizer só o necessário, se for necessário dizer. A modernidade nos deu de presente o progresso, o progresso trouxe carros, máquinas e poluição, a vida instável trouxe natalidade, trânsito e barulho, vazio e bobagens, sons que não nos dizem nada, e como consequência nos deu enxaqueca de tanto falar e ouvir, e como se diz, falar demais não é necessariamente se comunicar. As relações humanas seriam muito melhores se fossemos mais comedidos e econômicos, se fizessemos menos questão de sermos melhores do que os outros, comprariamos menos, brigariamos menos e falariamos menos também, uma sociedade sem guerras e com menos barulho, seria mais harmonioza e um lugar melhor para todos.



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Ouçam: "E estamos conversados" [Arnaldo Antunes/Paulo Tatit].

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Notas.

1. Formada em História pela UFRJ, possui pós-graduação em História da Arte pela PUC-RJ e em Sociologia pela UERJ. Atualmente é escritora em blogs e periódicos e atual como consultora social em ONG´s no Rio de Janeiro e no Espírito Santo.

2. Figuras, 1945. Óleo sobre tela - 55,4 X 46,6 cm. MAC-USP.

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