sexta-feira, 24 de abril de 2009


Ensaio.

Equilíbrio de
Force.

por Marlon Marques.


























Domingo dia 26 de abril de 2009, é o primeiro jogo da final do campeonato paulista. Estaram frente a frente no gramado da Vila Belmiro, Santos e Corinthians. O clássico mais antigo entre os grandes do futebol paulista, disputado desde 1913, terá nesse domingo mais um episódio que entrerá para história. Esse clássico é cercado de mística e tabus, Pelé e Robinho foram carrascos do time de parque São Jorge por longo período, enquanto a era Marcelinho Carioca viu o timão levar mais vantagens sobre o peixe. Talvez em toda essa história quase centenária desse clássico [96 anos], esse seja o momento de maior equilíbrio entre as duas equipes. Ambas fizeram campanhas similares, o Corinthians não perdeu ainda, porém empatou muito, o Santos ganhou mais, porém teve derrotas no caminho. O ataque corinthiano fez mais gols, ao passo que sua defesa é a menos vasada do campeonato, no lado santista, tem um dos concorrentes a artilharia, Kléber Pereira, e um dos melhores, se não o melhor goleiro do campeonato, Fábio Costa. No único duelo entre as equipes nesse ano, deu Corinthians, 1 a 0 no Pacaembu, no dia 22 de março de 2009. O Corinthians terminou a fase de pontos em terceiro lugar, já o Santos foi o quarto colocado após disputa dramática com a Portuguesa, e uma conturbada e emocionante partida contra a Ponte Preta em Campinas, terminda em 3 X 2 para o Santos numa virada histórica. Nessas colocações, os dois alvinegros graduaram-se a enfrentar Palmeiras e São Paulo nas semi-finais, um fato que não ocorria a mais de dez anos, os quatro grandes times do estado chegarem nas fases finais do campeonato. O equilíbrio e a igualdade do clássico começa justamente aqui, tanto Santos quanto Corinthians por terem campanhas inferiores as de São Paulo e Palmeiras, jogaram em desvantagem, porém fazendo a primeira partida em suas casas. O fator casa parecer ter sido decisivo, apesar de que essa lógica não foi confirmada nesses jogos, pois os alvinegros venceram as duas partidas, dentro e fora de casa, Santos 2 x 1 no Palmeiras na Vila Belmiro e no Parque Antártica, e na outra semi-final, deu Corinthians, 2 x 1 no São Paulo no Pacaembu, com direito a gol dramático no final, e 2 X 0 no Morumbi. A imprensa bateu muita na tecla dizendo que São Paulo e Palmeiras foram irreconhecíveis, concordo que jogaram abaixo de suas médias, principalmente o São Paulo, mas há que se ressaltar a superioridade de Santos e Corinthians nas duas partidas, pois futebol é resultado, no placar e no gramado. Na somatória dos pontos, o Corinthians jogará a final com a vantagem de dois resultados iguais, isso significa que pode perder a primeira e ganhar a segunda, ou vice versa, pode empatar as duas, empatar a primeira e vencer a segunda, e vice versa, ou seja, o Corinthians por seus méritos tem a vantagem, que pelo que ocorreu na semi-final talvez seja uma vantagem relativa. Se o Santos conseguir o mesmo feito que conseguiu contra o Palmeiras, ganhar em casa e partir pra cima na casa do adversário, terá ao seu favor a possibilidade de ganhar ou empatar para ficar com o título. E como jogar na Vila Belmiro é sempre uma tarefa árdua, o Corinthians precisa estar em alerta e entrar no primeiro jogo pensando em todas as possibilidades. Ambas as equipes tem seus pontos fortes e pontos fracos, vamos explorar um pouco alguns deles. O Santos, tem como pontos positivos, o fato de ter um time mesclado, há jovens como Neymar, Paulo Henrique, Robson, Madson, e experientes como Kléber Pereira, Lúcio Flávio, Fábio Costa, Fabão, Fabiano Eller, Rodrigo Souto, jogares que já passaram por grandes clubes, jogaram grandes clássicos e grandes finais, acostumados com decisões e pressões. O time santista é rápido e leve, teve uma grande evolução no setor defensivo, além de ter conseguido boa consistência no meio campo, tanto na parte defensiva [Roberto Brum cresceu no campeonato], quanto na criação, com Madson e Neymar voltando e criando oportunidades para o artilheiro Kléber Pereira. O Santos ainda conta com a classificação da imprensa como azarão, surpresa e não está cotado como favorito, ou como favorito também, isso representa que toda a responsabilidade está com o adversário, e o Santos entra assim nas finais sem pressão [o que eu discordo, acho que ambos são favoritos – os dois podem ganhar em condições iguais]. Os pontos negativos são, as alterações equivocadas do técnico Vágner Mancini, insiste em jogadores improdutivos [Robinho, Lúcio Flávio e Luisinho], e sempre substitui jogadores chave no time [Madson e Neymar], além de ter queimado Molina, nunca utilizado-o. O time da vila tem uma postura de sempre recuar quando sai na frente ou quando tem o resultado a seu favor, isso faz com o time sofra pressão e fique muito suscetível a sofrer gols, além do problema crônico de tomar gols no início dos jogos. O Santos joga com pouca raça [exceto contra o Palmeiras], embora tenha bastante técnica, a técnica sem a raça, é como fé sem obras, nada vale, todo time precisa de um Pierre, de um Marcão, de um Dunga, todos precisam de destruição de jogadas, de pegada firme, pois se deixar Douglas, Felipe, Djalminha livres, eles acabam com o jogo e deixam os artilheiros sempre na cara do gol. Já o Corinthians tem como pontos fortes, a raça do time, jogadores como Elias e Cristian [não pelo gol contra o São Paulo], tem demonstrado força de vontade e superação, correndo em campo pelos onze jogadores. O timão conta ainda com a força das alas, o fraco Alessandro parece ter se encontrado, já o ótimo André Santos, embora não viva seus melhores dias, tem evoluído nas últimas partidas, chega ao ataque com eficiência, faz gols, cobra faltas, corre, orienta, é um dos pontos principais da equipe. Douglas é de lua, tem jogos que aparece, tem jogos que não, porém quando aparece tem condições de deixar os companheiros em boas condições de jogo, além dos atacantes Dentinho e Jorge Henrique, velozes, habilidosos, e chatos – para os zagueiros, além da estabilidade da zaga e do bom retrospecto de Ronaldo. Pontos negativos, a instabilidade de Felipe, esse alterna bons e maus momentos, embora seja um grande goleiro, precisa de uma sequência mais segura para ser unânimidade no gol do timão, Henrique é muito bom na sobra, no mano a mano deixa a desejar porque é muito lento, pode a exemplo de Rodrigo do São Paulo, ser surpreendido pela velocidade dos jovens santistas. Os dois alas também são pontos de atenção, pois pela evolução do futebol, os alas foram programados somente a atacar, não tem características defensivas, então, são pontos que podem ser explorados pelo time santista, Ronaldo embora seja muito perigoso, se bem marcado não parece mais ter a capacidade de se desvencilhar de uma marcação forte, e caso fique preso nessa marcação, torna-se improdutivo para o time, além também das opções retranqueiras do bom Mano Menezes. O mesmo pode-se dizer de Douglas, se bem marcado, some em campo, chegou até a ser hostilizado pela torcida antes da segunda semi-final contra o São Paulo, e sendo ele o elo entre o meio campo e o ataque, caso o Corinthians coloque nesse jogador suas esperanças, pode ter problemas. O segredo para ambos os times vencerem e serem campeões é explorar cada um as deficiências do outro, e corrigir também seus pontos negativos. O tão falado fator casa precisa ser explorado com eficiência, pois vencer em casa garante ao Santos tranquilidade para tentar segurar o timão no Pacaembu, e mesmo que perca na Vila, basta ao Corinthians vencer o peixe em casa que leva o paulistão para o parque São Jorge. Portanto, vencer é preciso, mas o empate também é bom ao Corinthians, mas é sempre perigoso jogar com resultados e com regulamentos embaixo do braço, isso traz acomodação e zona de conforto, podendo causar em campo perda de rendimento. Há muitos elementos que apontam esse equilíbrio dentro e fora de campo, são dois gigantes do futebol, tanto paulista, quanto brasileiro, cada uma das equipes sabe que do outro lado há grandes jogadores, uns começando agora, outros consagrados, mais ambos capazes de proporcionar ao espetáculo belos lances, jogadas geniais e gols, e tanto Neymar, quanto Ronaldo podem ser decisivos a suas equipes. É muito arriscado emitir um palpite numa situação como essa, pois não vejo favoritismo em clássicos, ainda mais em final, as forças se igualam mais ainda, o Santos é o time da virada, o Corinthians tira forças dos gritos da fiel torcida, os dois se agigantam, crescem em decisões, os Corinthians tem histórico de ganhar do peixe em semi-finais históricas, tirou o time da vila em 98 na semi do brasileiro e na semi do paulistão de 2001, onde Edilson, o capetinha, e Ricardinho foram os carrascos respectivamente. Já o peixe ganhou duas finais do timão [para citar apenas duas mais recentes], uma em 84 no mesmo campeonato paulista, 1 X 0 gol do Chulapa, e nas mesmas condições em 2002 no brasileiro, com um time entrosado e com um fora de série chamado Robinho. Realmente é arriscado apontar um favorito quando ambos vêem de partidas irreparáveis para essa final, foram inconstestáveis suas partidas contra os outros dois grandes paulistas, e qualquer prognóstico pode ser muito certo, ou muito errado. Porém acho que tudo pode depender do primeiro jogo, vai depender da forma como os dois times vão encarar a primeira partida, da postura que vão entrar para o jogo. O Santos joga em casa, tem obrigação de vencer, porém não será surpresa caso o Cortinthians vença, afinal é o Cortinthians, porém, mesmo que o timão empate na Vila, o peixe pode ganhar no Pacaembu, afinal é o Santos e em clássico não há surpresa. O Santos terá que tomar a iniciativa do jogo, tentar ganhar o jogo mesmo que de 1 X 0 apenas, pois vitória é vitória, mesmo de meio a zero, isso fará com que o Corinthians saia no Pacembu, se exponha ao contra-ataque e fique mais suscetível a abrir o placar, ou a ter o placar aberto. Se o Corinthians ir para cima do Santos já na Vila Belmiro, pode tomar, mas pode fazer, porém sem muito risco, pois ainda terá a segunda partida, tendo que depender dele apenas caso perca, pois precisará de uma vitória para levar o título. O que vemos é que há uma série de possibilidades, tudo pode acontecer, do impossível ao improvável, e realmente não dá pra dizer quem será o campeão. Como chegaram até aqui, ambos tem jeito e condições de campeão, e mesmo que um tenha vantagem dos resultados, o outro pode reverte-la, e mesmo assim isso não significará nada perto do que essas equipes podem fazer. O Corinthians precisar ficar de olho em Neymar e Kléber Pereira, jogadores decisivos e capazes de criar jogadas e liquidarem com jogos, um com seus dribles, passes e movimentação, e mesmo sendo muito jovem e franzino, joga como um veterano em muitos momentos, e quando precisou decidir, deu o passe do gol de Madson e sofreu o pênalti no clássico contra o time verde. Já o outro é um matador nato, seu nome é Kléber e seu sobrenome é gol, tem 10 nesse paulistão e pode até chegar a igualar o artilheiro da competição, Keirrison, com 13, pois na área ele não deve nada a nenhum dos grandes camisas 9 do futebol brasileiro, se deixar ele põe na rede. Do lado do timão, é bom o peixe pensar bem em Ronaldo e André Santos. O segundo é um ala muito eficiênte, chega a frente com facilidade, é um lider em campo, orienta os demais jogadores e é referência no time, faz gols, dá passes, e ainda é um bom cobrador de faltas, podendo decidir dessa forma, como um antigo e inesquecível camisa 7 que jogo e brilhou com a camisa do Corinthians. Já o primeiro dispensa maiores apresentações, Ronaldo, campeão mundial, maior artilheiro da história das copas do mundo, três vezes o melhor jogador do mundo, tem um curriculum pessoal invejável, mas não está vivendo de seu passado não, embora longe daquele Ronaldo de eras atrás, continua muito perigoso. Provou do que é capaz contra o São Paulo, arrancando surpreendentemente atrás do zagueiro Rodrigo, e finalizando com toda a categoria que tem na saída de Bosco, além dos demais gols que fez ajudando o timão a chegar na final da competição, portanto, ainda consegue realizar jogadas, correr e fazer gols, sua especialidade, e todo cuidado é pouco, mesmo não sendo mais fenômeno. Esse clássico tem tudo para render duas grandes partidas, porém é tudo muito igual, tudo muito parelho, mesmo que um dos dois ganhe o primeiro jogo, ou no caso do Corinthians empate, nada estará decidido, pois como diz o filósofo, o jogo só acaba quando termina, e num jogo de 180 minutos, nem aos 45 do segundo tempo do último jogo poderemos dizer algo, só quando o árbitro apitar e apontar para o centro do campo. O que posso dizer é que as condições são iguais, e que qualquer um que for campeão será com justiça e louvor, e mesmo aquele que perder isso não representará absolutamente nada, pois o Corinthians é muito maior do que dois jogos de final, e o Santos também, é muito maior do que qualquer eventual derrota numa final, ambos continuaram a existir, Ronaldos, Neymars, Pelés, Rivelinos e Marcelinhos passaram e passarão, mas Santos e Corinthians continuarão, para sempre, e sempre grandes.


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Um comentário:

  1. Filipinho Gasparini3:26 PM

    De Filipinho Gasparini

    Sem mais palavras, esta tudo muito dito. quase chorei, falando assim do todo poderoso.

    voce MARLON MARQUES como o grande santista que conheço, deixou a camisa de lado para falar desta final não como um torcedor, e sim analisou todas as hipoteses do que podera ser esta final.

    e a unica coisa que podemos afirmar a respeito é que sera histórica. e como ja foi dito nenhum dos dois deixaram de existir em uma eventual derrota.

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