sexta-feira, 27 de março de 2009

Opinião.
















(fonte: wwwb.click21.mypage.com.br)


Clodovil Hernandes.

por Dirce Dalila e Marlon Marques.


Getúlio Vargas, por acasião de sua morte, proferiu uma das frases mais emblemáticas de todos os tempos, “saio da vida para entrar na historia”. O Brasil é um país que tem uma relação muito ambivalente com seus ídolos, embora alguns sejam realmente celebrados em vida, como é o caso de Ronaldo, e em menor proporção Roberto Carlos [o cantor], é só após a morte que o culto realmente começa, Elis Regina é sempre lembrada, Garrincha foi esquecido, mas Ayrton Senna é quase um deus, posição que só alcançou após passar para o outro plano. Da mesma forma que a Igreja Católica instituiu o dogma da infalibidade papal, no Brasil temos algo parecido, a intocabilidade dos ídolos nacionais e dos famosos mortos. Clodovil parece estar passando por esse processo, pois todas as matérias de imprensa sobre o polêmico estilista, político e apresentador de TV, procuram engrandece-lo ou bajula-lo, e talvez por um falso respeito, preferem não critica-lo. Mas as coisas são assim mesmo, a imprensa é uma boa e velha máquina de criar e destruir reputações, e de manipulação também, digo no sentido de explorar alguém para ganhar audiência, é uma das estratégias do capitalismo da desgraça. Seguindo uma linha lógica e cronológica, iniciemos com o Clodovil estilista. Talvez se dividirmos a história da moda no Brasil em três fases, certamente serão Zuzu Angel [Anos 50 à 60], Clodovil [Anos 60 à 70] e Gisele Bündchen [Anos 90 e 2000], os anos 80 no Brasil foi marcado por diversos nomes de importância, sem que um fosse maior do que o outro. Clodovil por ter seu nome gravado na história da moda no Brasil, utilizou-se disso para alçar postos na televisão e no show bizz em geral, e por ser uma referência nesse ramo, criticou e humilhou diversas pessoas, famosas e anônimas em programas e em entrevistas para revistas. Embora tenha sido considerado um grande estilista, e ter vestido diversas personalidades brasileiras, e de ter alcançado algum reconhecimento internacional, Clodovil se achava muito mais do realmente foi, superlativou demais sua própria história, numa retórica de auto-vangloriação. Nesse aspecto ele lembra muito o Maradona, que aparece muito mais por depreciar o Pelé do que pelo próprio talente, Clodovil nunca aprendeu que não é apequenando os outros que se engrandece, esse não é o caminho de maior consistência. Dizem que a melhor defesa é o ataque, e nem sempre atacar é sinônimo de fortaleza, e muitas vezes é apenas uma forma maquiar certas fraquesas. Como crítico de moda, em muitas oportunidades não se limitava á apenas julgar os aspectos técnicos da criação de roupas, caimento das peças nas modelos, tendências, combinações e outros quesitos, mas atacava modelos e estilistas, ampliando os comentários para o lado pessoal e expondo preferências. Jô Soares costuma em suas entrevistas aparecer mais do que o entrevistado, invertendo a posição de estrela do espetáculo, Clodovil sempre se utilizou desses mesmos artifícios, querendo aparecer mais do que aqueles que deveria julgar, típico de quem necessita de ibope a todo instante. O apresentador de TV Clodovil, em nada acrescentou em relação a conteúdo para aqueles que o assistiam, eram programas sobre assuntos femininos, porém tratados da mesma forma vazia dos outros programas similares. Embora tenha estudado filosofia durante a juventude e de ter viajado muitas vezes a Europa, não expos a cultura que dizia ter, nem a finesse que aparentava, pois além de não elevar o nível de seus programas, se mostrou várias vezes em seus programas uma pessoa racista e preconceituosa. Muito disso se deve a esse endeusamento que as celebridades recebem da imprensa e da população, que somente por serem famosos, são elevados a um nível de sapiência tamanha, que são sempre convidados em programas de entretenimento barato a dar opiniões sobre diversos assuntos. Entretanto, essa liberdade de dizer o que se quer, é um fruto podre das sociedades democráticas, os problemas são dois, um é que o ser humano não está preparado para ter liberdade, lembre-se de Ícaro, e dois, a liberdade de expressão caminha muito próximo da ofensa, pois as vezes ser muito sincero não é necessariamente uma virtude, e há certos comentários que são desnecesários e outros que por mais verdadeiros que sejam, devem ser feitos da forma mais cauteloso possível. Clodovil foi acusado de racista e antisemita, e logo ele, homosexual assumido e visível, ter um comportamento assim, ele também fazia parte de uma minoria discriminada no país, sofria [mesmo sendo famoso] a cada comentário contra gays [por ser um], a cada hostilização, ridicularização e crimes cometidos contra pessoas de sua mesma opção sexual, e como lutar por igualdade e direitos se você age de forma discriminatória. Do que lhe adiante fama, dinheiro, cultura, se o principal você não tem, humanidade e respeito pelo próximo, não adianta só ser rico materialmente, é preciso também ser rico de espírito. A carreira política de Clodovil não tem nada de relevante, apenas um escândalo com a deputada do PT Cida Diogo, embora ele não tenha dito nada demais a ela [chamou-a de feia], esse episódio deflagra uma declaração horrível contra as mulheres. Clodovil disse que as mulheres ficaram vulgares, ordinárias e cheias de silicone, e que atualmente as mulheres trabalham deitadas e descansm em pé, numa referência a prostituição. Não se pode generalizar em nada, e não é correto dizer que todas as mulheres são dessa forma, isso é negar a contribuição de grandes mulheres para o progresso da nação e o muito que muitas fazem todos os dias em casa, nas fábricas, nos escritórios e na retaguarda de muitos homens, anônimas ou com sua importância reduzida. O ar de Clodovil, seu olhar, seus gestos, são de uma arrogância narcísica, ele anda como se flutuasse para não pisar no mesmo chão que os meros mortais como nós, ele sempre se dirigiu a seu público como se ele fosse o civilizado falando aos bárbaros, mal olhando no rosto das pessoas, sempre um olhar meio de lado, totalmente despresível, superior. Entretanto, a morte não pode apagar a faceta original das pessoas, e Clodovil não pode ser redimido só porque não está mais entre os vivos, foi arrogante sim, prepotente também, cinico e mal educado com seus colegas de TV e com as pessoas que o assistiam, se considerava acima de todos, e do bem e do mal, e como disse Constance Harraway [Laura Linney] á Davd Gale [Kevin Spacey] no filme “A Vida de David Gale”, “me avise quando a sua arrogância começar a atrapalhar o seu trabalho”, no caso de Clodovil o mesmo poderia ter sido dito, a arrogância atrapalhou muitas vezes o seu trabalho, e até mesmo sua vida pessoal, porém a cegueira que acomete os tolos, fez com que a maioria das pessoas não vissem nele esses defeitos, que ao longo de sua vida e se fizeram mais presentes do que suas virtudes, mas, ainda sim fico com Nelson Rodrigues, toda unânimidade é burra, não que o Clodovil fosse uma unânimidade, mas é fato que muitos o adimiravam, dos comuns aos televisivos, porém todos cegos, ofuscados pela luz da arrogância de um pavão com penas menos bonitas quanto ele mesmo achava.

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