domingo, 8 de março de 2009

O delírio da razão.

por M.M. e Dirce Dalila.

Certa vez o ex-prefeito da cidade de São Paulo, Paulo Maluf disse: “estupra mais não mata!”, a frase causou um grande alvoroço, o político foi chamado de inescrupuloso, entre outras coisas, e além de ter sido execrado, sofreu consequências politicas posteriormente. Realmente é algo abominável, pois não é preferível estrupar à matar, pois ambas as atitudes não devem acontecer [é claro que continuarão infelizmente], porém qual a diferença do que disse Paulo Maluf em relação ao que disse o arcebispo de Olinda e Recife, Dom Cardoso Sobrinho. O religioso disse, que o aborto é pior do que o estupro, ou seja, com outras palavras e em um contexto diferente, disse o mesmo que Maluf, que o aborto [morte] é pior do que estupro, e que a ação da equipe médica é mais condenável do que a do estuprador. Realmente há claramente aí uma falta de ponderação das coisas, além dos resquícios do embate histórico entre Igreja e Estado. O presidente Lula foi contra a decisão da Igreja, o ministro da saúde José Gomes Temporão também, uma grande parte da população também, porém se o Brasil é um país de maioria católica e seguem as diretrizes da Igreja, então a maioria dos brasileiros foi contra a decisão [acertada ao meu ver] dos médicos. Uma convicção religiosa não pode ser maior do que a lógica, pois o melhor para a criança [de 9 anos] foi a interrupção da gravidez, pois a menina não teria condições físicas para gerir dois fetos [grávida de gêmeos], seu corpo não está devidamente preparado para suportar uma gravidez, e as consequências poderiam ter sido piores, pois com certeza [caso a gravidez fosse levada a diante] poderia haver um aborto espontâneo, ou até mesmo complicações de parto, pondo em risco não só a vida das crianças, mas a da mãe também. Talvez a Igreja não tenha medido a situação no longo prazo, que ao invés de duas vidas, poderia ter perdido três vidas, apesar de que há um grande debate ainda em andamento sobre quando começa a vida, qual o instante primordial, portanto, não há como dizer que a vida foi interrompida, pois ainda não se tem plena certeza do momento exato em que se possa afirmar que o embrião de fato é algo vivo. Entretanto, essa e outras questões polêmicas parecem estar estácionadas na pauta de debates do Vaticano, principalmente pela atuação e pela personalidade do papa Bento XVI, conservador e pouco aberto ao diálogo com a sociedade na direção de uma ponderação sobre certas questões. Quem não se lembra do drama de Eluana Englaro, que ficou em coma por 17 anos, cujo o caso foi a justiça italiana e comoveu o mundo, pois a Igreja é contra a eutanásia, agora fica a questão, Deus não nos deu o livre arbítrio, então porque a Igreja deve gerenciar um direito nos dado por Deus? Em Mateus 16,18, Cristo diz a Pedro que “tudo o que ligares na terra, será ligado no céu”, ou seja, tudo o que Pedro decidir aqui na terra será acatado no céu, e como a Igreja é liderada pelo sucessor de Pedro, a instituição se acha no direito de interferir na vida das pessoas. Toda liderança precisa ser flexível, pois existem questões que estrapolam o dogmatismo religioso, pois esbarram na vida das pessoas, e nas escolhas que as próprias pessoas devem fazer, e no caso da menor de idade, o que seus pais acreditam ser o melhor, e mesmo que isso não seja o que Igreja considera o melhor. O embate entre leigos e religiosos chega ao ponto da censura e da impossibilidade da discordância, pois a Igreja reprime e condena aqueles que não aceitam suas posições, inclusive dentro da própria Igreja, veja o caso de Hans Kung [teólogo suiço] e Leonardo Boff, fica mais uma vez uma questão, é proibido discordar? Como cresceremos sem diálogo, que é a interação entre duas ou mais pessoas, muitas vezes com opiniões diferentes, que no processo dialético formam uma outra concepção, diferente, as vezes enriquecida por pontos que uma das partes desconhecia. A Igreja por vezes se posiciona irredutível por não querer rever certas posições, embora papa e líder da Igreja, João Paulo II era freado por setores mais conservadores da Igreja, ou não é pelo menos aceitável o fato de que João Paulo II iria continuar as diretrizes do Concílio Vaticano II [possibilidade]? A Igreja parece andar para trás quando deveria andar para frente, pelo simples motivo de que cresce o número de não-religiosos no maior país católico do mundo, isso preocupa, porém a Igreja não possui mais a mesma força de antes da Revolução Francesa [1789], ou melhor, o declínio de fato da Igreja começou quando Napoleão postergou a coroação oficial ao tomar das mãos papa Pio VII, simbolizando a vitória do mundo laico sobre o religioso. É fato que a Igreja não tem como mais combater de forma eficaz com o Estado e nem com a população, pois o Estado é amparado pelo direito, pela constituição, e os cidadãos possuem opções religiosas nesse mundo globalizado, seja o protestantismo [a maior ameaça católica], seja a espiritualidade pop [zen budismo, ioga]. É necessário que haja um diálogo mais aberto entre a Igreja e a população, pois religião não deve ser para separar, mas sim para agregar, porém o que vemos é olhares em direções opostas, e nesse caso do estupro da menina de 9 anos, a Igreja parece ir contra a lógica, criando argumentos de inversão lógica, citando o holocausto como exemplo, e se esquecendo que Pio XII se omitiu diante do mesmo holocausto. Muitas vezes morremos mesmo estando vivos, há muitos tipos de morte, morte moral, psicológica, física, porém a Igreja só se preocupa com a morte física, veja o trauma provocado pelo holocausto, os judeus sofrem até hoje por conta desse episódio, a menina também sofrerá com toda a situação, em momento nenhum [que eu tenha visto] a Igreja se mostrou solidária com a menina e com sua família, onde está o humanismo, o zelo pela família e a condenação ao mal? Entretanto cabe uma reflexão em relação ao aborto, sobre sua legalização e principalmente sobre a condenação e as ações preventivas para que não volte a ocorrer, por isso, recomendo que todos procurem se interar a respeito, formar opinião, combater, ouça Tori Amos e pense que isso pode acontecer com qualquer um de nós e de nossa família, e a dor dos outros nunca é tão dolorida quanto a nossa própria dor.

“Deus não nos deu o livre arbítrio, então porque a Igreja deve gerenciar um direito nos dado por Deus?”

























"O embate entre leigos e religiosos chega ao ponto da censura e da impossibilidade da discordância, pois a Igreja reprime e condena aqueles que não aceitam suas posições, inclusive dentro da própria Igreja, veja o caso de Hans Kung [teólogo suiço] e Leonardo Boff, fica mais uma vez uma questão, é proibido discordar?"

"Pense que isso pode acontecer com qualquer um de nós e de nossa família, e a dor dos outros nunca é tão dolorida quanto a nossa própria dor."
























(From The Choirgirl Hotel - Atlantic/ WEA, 1998)

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3 comentários:

  1. Deus nos deu o livre arbítrio, porém a nossa liberdade acaba quando começa a liberdade do outro que no caso é a criança assassinada no ventre materno.



    http://eucreiojesus.blogspot.com/2009/03/o-projeto-matar-e-o-projeto-tamar-o.html

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  2. Com todo o respeito, o texto acima carece de muita informação sobre o que é a pessoa da Igreja e o que são as pessoas da Igreja! Além disso, ele é baseado somente nos fatos que a imprensa perseguidora assaz da Igreja Católica e principal meio de propagação da pornografia, da obscenidade e de manipulação que existe em nosso meio. Quando leio textos como este, vejo o grande poder que a mídia secular tem de distorcer fatos e contar apenas a parte que lhe interessa, para vender mais, para provocar discussões, para gerar IBOPE, sim, porque uma das coisas que mais dá IBOPE neste país é perseguir os cristãos, tanto católicos, quanto evangélicos. É bem próprio daqueles que se incomodam por estarmos seguindo Aquele que é a Verdade e, nesse ponto, não há o que negociar, nem discutir, embora esta mesma Igreja Católica, acusada de ser retrógrada e perseguidora, nos ensine a dialogar com todos, cristãos e não cristãos, mesmo sem abrir mão do que cremos.
    Existem uma outra versão dos fatos e, nesta versão, os autores deste texto e todos os que se prendem ao que a mídia secular diz como se fosse verdade irrefutável, poderão ver o relato de alguém que participou diretamente do caso e lutou, até o fim, para preservar a vida destas crianças. Isso pode ser lido em http://padreedson.blogspot.com/2009/03/caso-da-menina-de-alagoinha-o-lado-que.html, caso haja interesse e abertura para tanto.
    Além disso, numa gravidez de 4 meses não se discute mais se a vida começou, pois mesmo os defensores do aborto (sorte deles sua mãe não tê-los abortado e infelicidade dos fetos indefesos) concordam que ali já estão seres humanos, nesta idade gestacional. Além disso, a menina corria tanto risco de vida que saiu do hospital no dia seguinte ao aborto, tamanha era a sua fragilidade física! Lembro-me de um depoimento de um médico que dizia que a medicina trabalha com probabilidades e, por isso, como havia uma probabilidade (e não um risco eminente) de a menina não suportar a gravidez até o fim, resolveram por abortar o mais rapidamente possível. Só que todos precisam entender que nós, os cristãos, não trabalhamos apenas com probabilidades, mas contamos sempre com a Providência Divina, o que muitos dos anti-religiosos chamariam de ignorância, mas que a Bíblia Sagrada chama de fé! Poucos viram outros depoimentos de bispos e do próprio bispo de Recife e Olinda dizendo que o que estavam pleiteando é que se tivesse uma melhor assistência à gravidez e que se tentasse levá-la até ao quinto ou sexto mês, quando já seria possível se fazer o parto e tentar resguardar a vida de todos os envolvidos. Mas os médicos julgaram, como aparentemente também os autores deste texto, que a vida extrauterina é mais importante do que a intrauterina e então, vejo a frase que se encontra neste texto totalmente disconexa com a realidade dos fatos: "Deus não nos deu o livre arbítrio, então porque a Igreja deve gerenciar um direito nos dado por Deus?” E quanto ao livre arbítrio e o direito de nascer e viver dos gêmeos? Quem os defendeu? Temos milhares de ONG's e instituições para defender a pobre criança estuprada e dar-lhe assistência, mas quantas instituições foram suficientemente coerentes para pensarem também nas vidas que foram ceifadas daquele pequeno ventre? Somente uma teve a coragem de defender a vida dos três: a Igreja Católica Apostólica Romana, que mais uma vez "deu a cara a tapa" para defender a vida desde sua concepção!!!
    Sou católico e sugiro que os autores deste texto tentem conhecer melhor a doutrina católica, seus dogmas e sua estrutura organizacional para compreenderem que não somos "vaquinhas de presépio" ou seres acéfalos comandados apenas pelo que q Igreja diz, muito pelo contrário, quem vive a fé católica em sua plenitude, entende toda a autoridade com que o Magistério ensina e toda a liberdade que temos em discordar até que possamos compreender o que diz o Magistério.
    Para terminar, repito a frase: a felicidade dos abortistas é que a mãe deles não os abortou!!! Agradeço à minha mãe pelas 2 horas que passou na mesa de parto e por todos os infortúnios dos 9 meses em que me carregou em seu ventre. Solidarizo-me com a dor desta pequena criança que, creio em Deus, será curada das feridas que este estuprador lhe deixou, mas, infelizmente, as pobres crianças que lhe foram ARRANCADAS do ventre, não terão a chance de viverem! Lamentável!

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  3. Se você está transando com sua namorada, esposa ou amante, e ela estiver no período fértil, naquele delicioso momento de climax, por acaso não estão usando camisinha e deixam rolar e derrepente... Um orgasmo...... Pronto!!! No dia seguinte sua namorada, esposa ou amante vai até a farmácia e compra a "pílula do dia seguinte", após ingerir o medicamento mesmo se o óvulo já estiver fecundado ele se desprenderá do colo do útero, ou seja um aborto!!! Ai eu lhes pergundo:

    Você julgaria sua mulher por este ato?????

    Por que julgar uma pobre criança vitima de um ato aboninável e horrendo??? Talvez se ela tivesse ido até a farmácia para comprar á pilula... não teria gerado essa manifestação toda anti-aborto. O que você me diz da fragilidade de uma gestação num corpo de uma criança???? Você acha isso coreto??? Uma criança de nove anos com todas as responsábilidades de uma mãe??? Ir para a mesa do parto sabendo que poderá morrer, isso se a gestação chegar aos 6 meses...???? O que você me diria se fosse a sua filha de 7,8,9 anos (Deus o livre)vítima dessa brutalidade???? Se você acha que nesse caso não poderá ser aplicado o aborto por causa da vida que ainda irá demorar semanas para começar a se formar no ventre dessa pobre criança... Por favor não diga mais nada.

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